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Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

sempre assim fiz e sempre correu bem

Tri, 24.03.23

É daquelas respostas que me deixam fora de mim, como se o facto de termos bem feito algo em determinado tempo significa que tal não pode ser sujeito a mudanças e melhorias, porque “em equipa vencedora, não se mexe”.

Não é verdade, se os tempos mudam, o nosso meio envolvente muda, nós também temos que ir alterando os nossos hábitos, rotinas, manias, forma de fazer as coisas, seja o que for, mas as coisas podem e devem ir evoluindo.

E isso também é transversal à parentalidade, percebo as tias e avós que dão milhentos conselhos de ‘como bem fazer’, mas nem todas essas dicas e mezinhas funcionam hoje em dia, ou fazem sequer sentido.

Há décadas era o melhor que havia, e todos davam o seu melhor, entretanto as gerações são mais instruídas, mais curiosas, e mesmo a forma de educar mudou, ou deveria mudar. (e atenção que não estamos a dizer que os valores base não se mantêm)

Os meus pais faziam-me isso e estou aqui hoje, gordinho e tudo”, adoro estas constatações como se o facto de esta pessoa ter “sobrevivido” à sua infância é motivo suficiente para validar os métodos educacionais dos seus pais como excelentes. E até podem ter sido, atenção, não sabemos, mas também podem não ter sido e está tudo bem, desde que tenhamos essa consciência e façamos algo para mudar isso mesmo.

Mas será que poderia ter sido feito ainda melhor? Ou seja, além de eu ter sobrevivido será que poderia ser uma pessoa mais confiante, decidida e feliz?

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Em diferentes gerações existiram diferentes métodos de educação, pais que batiam, crianças a ficarem de castigo, pouca demonstração de carinho e afeto, crianças deixadas todo o dia na frente de uma televisão, etc.

Foi resultando, foi. Somos todos adultos hoje com as nossas memórias que também incluem, um passeio em família ao domingo, um dia especial com direito a um gelado, uma volta de bicicleta/triciclo.

Todos os pais fizeram o melhor que sabiam com as ferramentas que tinham, não duvido! Mas não implica que tenha sido perfeito e não implica que continuemos a perpetuar alguns dos erros geração após geração.

A parentalidade consciente é um tema fascinante (partilho convosco uma autora que adoro, Mikaela Övén) e eu acho que torna a parentalidade quase num projeto, como se criar aquele Ser fosse um projeto para o qual temos que ter um plano, ter consciência do que vamos fazer e dizer e não improvisar; um projeto para o qual fazemos todo um planeamento prévio com a obrigação de criar o melhor Ser possível, com valores humanos que tanta falta fazem no mundo.

Vamos tentar que não passe desta geração, os gritos constantes, a violência física, os abusos verbais, a manipulação da autoestima, as críticas excessivas.

“Em cada geração, só um pequeno grupo pode mudar o destino da humanidade: os adultos com crianças pequenas.” (Lar Montessori)

Vamos elogiar, incentivar, promover o espirito crítico, ensinar a tolerância e respeito, espalhar o amor, incentivar a partilha.

E isto tudo porque no supermercado uma mãe se passou com o miúdo, que devia ter cerca de 3 anos, como se toda a gritaria e o discurso dela fossem entendidos na perfeição por aquele pequeno Ser que sabe lá o que é inflação, e se pode ou não sonhar com um novo carro de bombeiros.

as desigualdades

Tri, 17.05.17

O Observatório das Desigualdades francês desenvolveu uma experiência social com um grupo de crianças a jogar Monopólio mas com uma série de novas regras, injustas e díspares, como as que todos nós nos deparamos na vida real.

 

O objectivo primordial é o de fazer o paralelismo com a vida real, realçando alguns grupos que são inatamente privilegiados sem nenhuma questão meritocrática associada tendo por base características consideradas mais positivas ou aceitáveis de acordo com as normas vigentes, de forma a que mais facilmente possam alcançar a vitória no jogo. 

 

Existem regras como: as raparigas apenas ganharem 150 euros por cada passagem na casa de partida ao invés dos 200 euros que ganham os rapazes (de forma a reforçar as disparidades salariais tendo por base as questões de género dos colaboradores), o acesso à compra das estações estar vedado à criança deficiente motora que integra o grupo (para chamar a atenção para que, em França, apenas 30% das estações de comboio se encontram acessíveis a pessoas de mobilidade reduzida), entre outras regras que despoletam sentimentos de frustração, injustiça e raiva, vale tudo para se mostrar as regras formais ou informais por que se regem as sociedades contemporâneas. 
 
Para reflectir.
 

 

a necessidade da tolerância

Tri, 05.04.17

Atualmente vivemos numa sociedade em que as pessoas se agridem por motivo nenhum; não suportam qualquer tipo de falha ou contradição, muito menos de serem confrontadas com ideias distintas das suas.

 

Se a meio de uma conversa, discordam com a opinião do outro, já não há o poder da retórica só o do murro; se um empregado de mesa se engana no pedido, ‘vira-se a mesa ao contrário’; se alguém passa á frente na fila do metro, começa-se a insultar; todos os locais e motivos servem para partir para a agressão e ofensas desmedidas.

Hoje quase toda gente vive com uma postura snobe e aristocrática que os impede de aguardar pela sua vez, de falar direito com o próximo e respeitar o seu espaço.     

 

De facto, creio que o nosso problema não é a desigualdade, na verdade, o problema é que não toleramos a igualdade dos cidadãos. Pessoas com os mesmos direitos que nós, a mesma liberdade, a mesma importância, é a democracia no papel, não na prática.

 

Aceitar as diferenças e respeitar os direitos das pessoas torna-se uma virtude indispensável para conseguir viver e conviver neste mundo repleto de energias negativas que nós atraem.

 

Creio que a tolerância também se perde em todo esse negativismo, vivemos a vida a correr para satisfazer os nossos compromissos, stressados durante o dia de trabalho e com vontade de regressar a casa, mas antes disso ainda temos que suportar filas de trânsito imensas, transportes públicos superlotados … vivemos mais impacientes que nunca.

Nos relacionamentos de hoje, qualquer que seja a sua natureza, não se pára para ouvir o desejo do outro, para se ajudar o próximo, para se ter um momento de delicadeza.

 

A palavra de ordem para tentar combater este estado espirito que nos rodeia é mesmo resistência, perante todas as atrocidades a que assistimos, perante todas as indelicadezas a que somos sujeitos, devemos resistir e não reagir. Resistir pacificamente e dar o exemplo, ser gentil e não julgar e tentar fazer dessa regra o dia-a-dia de quem nos rodeia.

o limite da tolerância

Tri, 02.03.17

maos dadas.jpgA tolerância é o ato de aceitação perante algo que não pode ou não se quer impedir.

 

Creio que é uma das premissas base para se viver em sociedade de forma a se aceitar o próximo; aceitar opiniões diversas e comportamentos tidos como diferentes.

Certo é que nunca pensamos todos da mesma forma, aliás nunca veremos a mesma verdade como facto único e imperativo; já dizia Gandhi “…nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos”.

 

Pessoalmente, considero-me uma pessoa tolerante nos diversos quadrantes da minha vida; tenho alguma paciência no trânsito, não sou de usar a buzina ou barafustar com outros condutores; aguardo calmamente a minha vez na fila do supermercado mesmo quando a senhora da frente demora 5 minutos só a procurar talões e cartões de desconto; com os colegas de trabalho evito descarregar frustrações; sou paciente com a família, amigos, etc.

Ainda assim, assisto a situações diariamente que tentam claramente pôr á prova o meu nível de tolerância, pois interferem com o respeito pelo próximo e revelam faltas de educação.

 

Quase atropelar um peão pelo simples facto de este decidir atravessar fora da passadeira, após uma curva, num local sem visibilidade e com toda a calma do mundo como se o semáforo (inexistente) estivesse verde… é algo que testa a minha tolerância.

 

Não entendo o risco a que se sujeitam (eu também sou peão e não o faço) e não entendo a imposição a que sujeitam o condutor, obrigando a que o mesmo ceda passagem num local onde não está previsto que tal aconteça.

 

Isto não é mais que falta de respeito, falta de respeito pelo condutor, pelo próximo; é um egocentrismo onde só o que queremos e achamos correto é que prevalece e temos que subjugar todos os que nos rodeiam a isso.

Passar onde não deve, colocando inclusive a própria vida em risco (sim que um carro não se trava num piscar de olhos), obrigando todos os outros a parar também onde não devem, não é porque “dá jeito passar ali” e a passadeira está longe, é unicamente falta de respeito.

 

Tenho receio que um dia haja limites para a tolerância, depois de tantas vezes abusada, e que o “próximo” condutor não pare e espere pacientemente …