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Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

no que nos estamos a tornar ...

Tri, 21.08.17

Ligamos a televisão nos dias que correm e, apesar de mudarmos de canal, as notícias são equivalentes em qualquer um deles; são homogéneas em toda a sua desgraça e destruição.

Apavora-me ver as notícias de hoje em dia, não um susto momentâneo, não um terror de não conseguir sair de casa, mas uma inquietação constante de não saber para onde caminha este mundo.

 

Tudo é tristeza, desgraça e destruição à nossa volta; incêndios que não cessam e incendiários que não são castigados, ataques terroristas quase diários e cada vez mais perto.

 

É um temor não saber o que será desta sociedade amanhã; não no aspeto económico-social relativo ao aumento da taxa de desemprego, aumento das rendas de casa devido ao crescendo de alojamentos locais e afins, da crise económica ou da poluição, não. Falo apenas da sociedade!

 

Esta sociedade que é a nossa e que tem como base a banalização da violência, tem como resposta a qualquer problema a falta de tolerância; esta sociedade que não cria resposta para os conflitos sem ser com novos conflitos.

Problemas estes que são transversais, desde os governantes, que deveriam dar algum exemplo, até aos cidadãos que não aceitam um ‘não’ como resposta sem que tal seja tido como uma afronta e tenha como resposta a violência imediata.

 

Temo o futuro da humanidade, pois assisto à sua destruição maciça: o homem a autodestruir-se.

 

É impossível sentirmo-nos indiferentes a tudo o que se tem passado.

Estamos cada vez mais impulsivos, menos racionais e a regredir em vez de evoluir; na verdade estamos a tornar-nos em verdadeiros animais da selva com a diferença fulcral de que não matamos para sobreviver, mas sim para nos fazermos valer.

 

O mundo está de facto virado do avesso, de uma forma que me deixa inquieta relativamente ao futuro e que me faz temer pelo mesmo e por todos os descentes que eu possa cá deixar. O que será o mundo para eles?

Estamos a evoluir no sentido contrário ao dos conhecimentos que adquirimos com o tempo. Evoluímos cada vez mais rapidamente para o egoísmo, para o egocentrismo, para a falta de tolerância e de respeito, para a falta de liberdade …

 

Ainda tenho esperança e acredito que podermos mudar e melhorar, mas até quando estes atos cruéis que saem impunes, até quando a corrupção sem consequências; para quando a esperança de um mundo melhor, de pessoas melhores?

 

Sei que diariamente devemos todos tentar fazer a nossa parte, pensar positivo, espalhar amor, proliferar a simpatia, paciência e tolerância …mas até quando?

o terror como arte

Tri, 21.02.17

Muita tinta tem corrido para comentar a fotografia do ano do World Press Photo que, como é já de conhecimento geral, é referente ao momento dramático em que um atirador, em plena Galeria de Arte Contemporânea de Ancara, disparou sobre o embaixador da Túrquia, matando-o.

O autor da fotografia é o turco Burhan Ozbilici, que estava aparentemente de passagem pela galeria e deparou-se com tal situação e ante o medo que sentia, optou por disparar a sua objetiva incessantemente obtendo diversas imagens do momento, entre as quais a considerada fotografia do ano.  

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Tenho várias considerações a fazer sobre tal momento e até sobre o prémio em si; primeiramente de referir que o atirador era um agente sírio do corpo de intervenção da polícia de Ancara e então pergunto: «como é feito o processo de recrutamento nesta polícia?», «como são analisados os destacamentos dos agentes para determinadas situações?».

 

 

Colocar este agente a acompanhar e, de alguma forma com o dever de proteger, o embaixador sendo ele de origem síria, com tudo o que se tem vivido na Síria, quem sabe se este jovem de 22 anos não estava de facto no limite? Quem sabe se alguma da sua família não estava em fuga do seu país ou até tivessem morrido no mediterrâneo como tantos milhares… São tudo suposições, mas plausíveis, que não justificam de todo o ato mas ajudam a tentar perceber motivações.

Claramente que não seria a pessoa mais indicada, de toda a equipa existente, para ser destacada para tal função.

 

Quanto à fotografia premiada especificamente, podem ser feitas diversas análise no ponto de vista estético, artístico ou mesmo no que concerne á coragem do jornalista, no entanto, não deixa de ser é um momento negro, a morte parada no tempo, num instante em que se pode ver tudo o que aconteceu, a surpresa, a loucura.

Uma imagem que apresenta e reproduz a atualidade, os tempos de medo e terror que se vivem.

 

Ouvem-se comentários depreciativos como que a indicar que o facto de esta ser a fotografia do ano pode incitar ao terrorismo. De facto um ato de terror quando ocorre é para ser difundido, e elegendo esta foto poderíamos de alguma forma estar a pactuar com o terrorismo, não obstante esse ponto de vista creio que o mais grave não é o encorajamento ao terrorismo que a foto pode causar mas sim o simples facto desta demonstrar a realidade, o terrorismo que já existe e faz parte do nosso dias-a-dia, a imprevisibilidade da vida atual.

Esta fotografia não vem mostrar ao mundo nada de novo, não vem dar a conhecer uma realidade oculta, não!, vem sim mostrar o que está a acontecer.

 

E tal comprovação é chocante porque demonstra cada vez mais o caminho que o mundo e a humanidade estão a levar, a rutura a que estamos a chegar; e se, tal foto, ganhar o prémio de melhor do ano não chocasse então sim estaríamos num ponto de loucura.

Pessoalmente não concordo com atribuição do prémio face à panóplia de fotografias existentes e que valorizo mais, no entanto, não condeno a atribuição do mesmo, não é uma foto sugestiva nem incentivadora é simplesmente um retrato real, do mundo em tempo real. É este cenário que se vive, por tantos outros lados, dentro e fora de galerias de arte.

 

Citando o jurado do WPP, João Silva, “Vejo o mundo a caminhar em direção a um abismo”, e este facto faz-nos crer que já não conhecemos bem as pessoas que nos rodeiam, com quem lidamos, que facilmente poderão entrar no ponto de rutura e ‘explodir’, sem motivo aparente, como aliás, vemos diariamente nos N/telejornais.

quando há sol, não é para todos

Tri, 17.02.17

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Ontem tive o privilégio de ter um momento de partilha com um voluntário dos Médicos sem Fronteiras (MSF). Ele abriu um pouco do seu coração e das suas experiências, numa partilha pura e comovente e desprovida de preconceitos e clichés.

 

Teve a oportunidade de partilhar um momento que viveu na sua última missão, na Síria, em pleno coração de conflitos onde após vários dias negros, de desgraça, morte, chuva e tristeza um dia brilhante desponta, com o sol a sorrir bem alto para todos os eles. Na sua ingenuidade apreciou esse momento, contemplou aquele sol brilhante, disfrutou um pouco da sua luz e calor e na “tenda” médica comentou com os locais:

 

- “Que belo dia de sol está hoje!”

- “ Não Doutor. Hoje está um dia péssimo! Está sol, o céu está limpo por isso eles vão voar … “

 

E essa cruel constatação rapidamente se tornou verdade, dentro de pouco tempo o local começou a ser sobrevoado, começaram a ser atacados pelos radicais, mais mortes continuaram a acontecer, mais feridos continuaram a encher a “tenda” médica em busca de auxílio dos MSF.

 

Desta forma se percebe que, de facto, “quando há sol, não é para todos”; algo sobre o qual nunca eu tinha refletido. É violenta esta constatação, cruel pensar que enquanto seguimos com a nossa vida muito mais bem-dispostos porque está um belo dia de sol, com outra alegria talvez e até com mais motivação para trabalhar, do outro lado do mundo muitos milhares morrem porque esse mesmo sol nasceu tornando-os mais vulneráveis.

Para alguns, um belo dia de sol significa temer pela própria vida, viver sobressaltado sempre á espera do inimigo, viver a controlar os céus ou a esquina á espera da próxima atrocidade e sentirem-se constantemente impotentes perante o radicalismo e ganância que os rodeiam.

 

Foi um momento gratificante esta partilha e quando achamos que fazemos alguma coisa em prol da humanidade, que marcamos a diferença nas ações de voluntariado que fazemos, quando achamos que estamos a fazer o que nos é possível, eis que vem uma pessoa como ele demonstrar que de facto o céu é o limite, que o coração pode ser infinitamente grande, que o mundo não tem fronteiras porque toda gente, de qualquer cultura, religião ou crença, no fundo quer que alguém lhe estique a mão e tenha uma palavra de apreço.