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Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

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eu não preciso de ninguém

Tri, 09.08.21

- “Como assim não precisas de ninguém?”

- “Não preciso. Estou bem sozinho. Estou bem comigo mesmo e não preciso de ninguém.”

- “Sim, mas todos nós precisamos de pessoas, precisamos dos nossos momentos a sós mas também precisamos de estar com pessoas senão piramos…basta veres como foi com uma pandemia p'lo caminho.”

E foi esta a premissa base do café que tive com um amigo há uns dias, que acha que é bom sabermos amar-nos e aprendermos a estarmos a sós, a estarmos bem apenas connosco e então, assim, aprendemos a não precisar dos outros.

Mas até que ponto isto é saudável?

Eu não quero não precisar de pessoas. Eu quero ter as minhas pessoas há minha volta, eu quero ser capaz de sentir saudades e tal só me acontece quando há envolvência e comprometimento efetivo.  

É certo que sempre gostei de me “armar em forte” mas sei que sou muito ligada há minha família e que faço por manter os amigos por perto (ainda que à distância, que hoje em dia se encurta com tanta tecnologia).

Também facilmente me ouviriam dizer ‘Estou bem comigo mesma’, e era verdade, mas tal não significava que não queria pessoas. Gosto muito dos meus momentos de solitude e faço por conseguir tê-los, tal como prezo os momentos de partilha. (principalmente à mesa, tuga que é tuga, partilha à mesa não é?!)

Na minha inocência acho sempre que é nos momentos de partilha que reside a riqueza, que se soubermos estar atentos, aprendemos sempre alguma coisa (não falemos de trabalhos manuais vá, mas de valores e atitudes, vocês percebem-me).

No fundo acho até que algumas pessoas passam pela nossa vida exclusivamente para nos ensinarem a não ser como elas, o que já é um grande feito, e se conseguirmos aprender isso já é uma grande lição.

Mas não podemos achar como o J. que estamos tão bem connosco que nem precisamos de pessoas; nós somos seres sociáveis, claramente que precisamos de pessoas.

o minimalismo veio para ficar

Tri, 28.06.21

Parece que foi ontem que conheci o minimalismo, apareceu na minha vida sem contar e veio revolucionar tudo. Mas não foi ontem, já lá vão mais de 5 anos.

O minimalismo como estilo de vida pode ter muitas interpretações, mas, essencialmente, é viver com a menor quantidade de bens materiais, apenas os que são necessários e organizar melhor o tempo, para ter tempo. (aí está o cerne da questão)

Não foi um dia, um clique e deu-se a mudança; foi sim um processo, ler coisas, ter acesso a informação que me fez questionar e pesquisar mais e perceber que fazia sentido para mim. (não tem que fazer sentido para todos, ok?)

No meu caso, libertei-me de imensas coisas que estavam a mais, e que ainda não me tinha apercebido, desde roupa, carteiras, eletrodomésticos, bibelôs pela casa fora e livros (verdade seja dita que estes nunca estão a mais, só vendi aqueles que não iria reler ou cuja temática eu não me identifico, tudo o resto mantém-se) e ganhei automaticamente tranquilidade.

De verdade, sem fazer mais nada ganhei logo tranquilidade porque senti que a minha casa ficou mais vazia, mas acolhedora, o que me permitiu passar a ter tudo arrumado sempre e perder muito menos tempo na limpeza da mesma.

Passei a usar o tempo que ganhei para me dedicar a coisas que gosto: estudar, projetos pessoais, ler, escrever. Enfim, passei a ter mais algum tempo para mim e isto apenas com o facto de ter destralhado o que andava a mais na minha casa.

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A minha experiência de desapego e de libertação de objetos foi positiva, como disse não foi um processo de resolução imediata, tive objetos que demoraram meses a ir embora até fazer sentido para mim não os manter. Pois tal como os processos de luto, que levam o seu tempo, o desapego também é um processo mental e emocional que requer tempo e libertação de espaço interior. Não implica deitarmos fora todos os objetos que nos foram oferecidos ou que têm memórias associadas, simplesmente deitamos fora o que não interessa para a nossa vida, que não tem utilidade prática ou que não queremos manter.

O minimalismo é uma mudança de mindset. Não apenas no momento em que o abraçamos e mudamos coisas na nossa vida, mas a forma como vivemos a vida, aquilo que deixamos de comprar, as escolhas que passamos a fazer, as prendas que deixamos de comprar para os outros, etc.

No meu caso, o minimalismo foi abraçado no seio de uma série de outras preocupações que já emergiam na minha vida, não comia carne, tinha grandes preocupações ecológicas, e tentava fazer o máximo possível para reduzir a minha pegada (quando ainda nem se falava tanto disso), pelo que para mim tudo fez sentido, tudo estava interligado e era super natural acontecer dessa forma.

Muitas pessoas ainda creem que se trata de nos livrarmos de coisas, de arrumações cheias de técnicas; quando isso é apenas uma das ferramentas existentes. E que existe, principalmente, para ganharmos a noção de quanto consumimos, desnecessariamente, e do quão agarrados estamos aos bens materiais sem termos, por vezes, essa consciência.

 

Mesmo não querendo aderir ao minimalismo, se calhar é interessante tentarmos aderir a algumas coisas, tentarmos, por exemplo, organizar a nossa casa (a nossa vida) e ganharmos a consciência da quantidade de tralha (lixo?!) que armazenamos pelos cantos.

Dupla grafia e dupla pronúncia

Tri, 23.06.21

Termóstato ou Termostato? E assim se gerou a confusão ontem na empresa.

Era preciso dar algumas ferramentas aos técnicos e um colega disse-me que o correto é dizer ‘termóstato’.

O correto? Como assim? Com base em quê?

Claro que se gerou automaticamente a discórdia (mas da saudável vá) e me levou a ponderar novamente a praticabilidade do Acordo Ortográfico. Já se passaram anos e continua a ser algo que, para além de gerar discórdia, gera erros consecutivos na nossa língua.

 

Eu não sou nenhum génio, nem muito letrada no assunto, mas respeito muito a nossa língua e gosto de ir aprendendo para evitar voltar a errar, mas, de facto, com o AO isso torna-se complicado tantas que são as situações dúbias e damos por nós a escrever (e a dizer atenção!) uma mistura entre pré-AO e pós-AO.  (basta ler os meus textos, onde isso acontece recorrentemente)

Ao contrário do meu colega, eu sou da equipa ‘termostato’ mas simultaneamente do ‘logótipo’, e aqui começam os contrassensos. Vou tentando ler sobre o assunto e aprendendo sempre, mas confesso que há palavras do novo acordo que me custa horrores aplicar e que me recuso perentoriamente. (e para ajudar à festa, o “querido” corretor automático do computador vai “corrigindo” as minhas palavras sem me pedir)

 

No quadro do Acordo Ortográfico de 1990, na secção 4 da Nota Explicativa, usa-se a expressão «dupla grafia» para designar casos de facultatividade. A dupla grafia é a possibilidade de se escrever a mesma palavra de duas formas válidas e corretas. Estas, no entanto, não são muito diferentes e algumas vezes a diferença sequer altera a pronúncia da palavra. Ou seja, na complexidade de haver uma regra clara para determinadas palavras quanto à ortografia o termo «dupla grafia» introduz essa possibilidade.

O objetivo implícito no AO foi o de conseguir que se tenha efetivamente uma só língua e não aparentemente duas, com grafias diferentes, ou seja, uma ortografia unificada de Língua Portuguesa. (uma treta na minha humilde opinião)

 

Mas então como se explica que se aceite “biópsia/biopsia”, “logótipo/logotipo”, “termóstato/termostato”, quando, supostamente apenas a primeira forma é a correta?

Pois bem, dizem que a língua é um organismo vivo e que as comunidades podem mudar a língua indiscriminadamente, uma vez que ela apresenta rigidez para as diferentes gerações ao longo dos anos, no entanto, tal implica sempre alguma conservação, caso contrário poderíamos ter simultaneamente grupos e faixas etárias com linguagens tão diferentes, que seria muito difícil comunicarem eficazmente entre si.

 

Ainda que existam estas possibilidade, se o acordo é ‘só um’, creio que devemos ser criteriosos quanto à utilização da nossa língua. Se optamos pela variante europeia, uma vez que somos portugueses, devemos selecionar a opção pronunciada em Portugal. Não significa que a alternativa usada no Brasil seja incorreta, mas trata-se de uma questão de coerência em relação aos princípios defendidos pelo AO. Deste modo, em Portugal, utiliza-se facto e, no Brasil, fato, visto haver uma oscilação na pronúncia.

Pronúncia essa que tem grande impacto na implementação do dito acordo pois alguém imagina que a ortografia possa ir ao encalço das pronúncias? Grande parte dos portugueses diz “joeilho”, “coeilho”, “bochêcha” mas alguém imagina que se decrete dupla grafia para isso? Ou que se adapte a ortografia? A ortografia e a pronúncia são coisas diferentes e devem ser tratadas como tal (tal como noutras línguas atenção).

Sobre o dito AO de 1990, António Guerreiro chamou-lhe “uma máquina de fomentar erros, de criar aberrações e instaurar o caos ortográfico” e Nuno Pacheco “O Acordo [Ortográfico de 1990] não é uma coisa com erros — é um erro com coisas.”; e eu estou de acordo, anos volvidos, regras a aparecerem e já se percebeu que muita coisa não faz sentido, que veio para estragar a nossa língua. Quando a riqueza está na variedade e não no facto de “sermos” todos iguais.

 

É que vendo bem as coisas, mesmo que o p de adopção e o c de tecto não se lessem, não existiam dúvidas quanto à sua aplicabilidade, aprendemos assim desde pequenos e creio que todos sabíamos ter que ‘colocar uma letra a mais’, mas daí a eliminar tudo…

Dizem que a língua evolui, facto; já não ninguém liga ao latim, nem se preocupa muito com a base das palavras; mas é uma argumentação fraca para aceitar tantas vergastas à nossa língua, pois os erros comuns que já existiam, continuam a existir como o ubíquo erro do há/à. Porque não tiraram o h do início das palavras também, já que não se pronuncia? (atenção que estou a ser irónica, não quero mais assassínios linguísticos)

Por tudo isto é que agora escrevemos “Egito”, o país onde vivem os “Egípcios”. E aquele que estuda a antiga civilização do “Egito” dedica-se à “egiptologia”, ou seja, é um “egiptólogo”. Faz sentido, não é? Não!

 

Há adaptações que não vejo como positivas e não creio que sejam minimamente relevantes, como a adaptação da escrita à oralidade… nós escrevemos “exacto” e não “izátu”, certo?

Por tudo isso continuam a existir dúvidas constantes, discussões na empresa (que depois derivam para o calão regional de cada um) e terminamos com a frase que mais se ouve ainda em pleno 2021, “Como se escreve esta palavra com o Acordo?”.

Será isto uma dificuldade minha de adaptação às mudanças, será da idade (eu falava a língua dos pês, e depois tiram-me os p, sinceramente…) ou será mesmo das incongruências do dito acordo? É só uma implicância minha?

recrutar pessoas ou rotular?

Tri, 11.03.21

Dado o facto de trabalhar numa empresa pequena, todos acabamos por ser polivalentes, acumular funções. E eu não sou exceção.

O crescimento da empresa nos últimos anos, as minhas aptidões para certas funções e todas as circunstâncias acabaram por me empurrar para o recrutamento.

Sou responsável pelo recrutamento na minha empresa e é algo que detesto. (pronto, já deitei cá para fora)

É uma função extremamente frustrante porque me obriga a ir contra uma série de princípios meus; o processo de recrutamento implica que se avaliem e rotulem pessoas com base em meia dúzia de informações. Nós somos muito mais do que aquilo que se escreve num papel ou que demonstramos numa hora de um dia de nervos.

Eu sei que tem que existir alguma forma para selecionar pessoas; que têm que ser excluídas ou selecionadas com base nalgumas informações, é inevitável, pois quem está a fazer a entrevista e a pressupor coisas sobre aquela pessoa tem também que ter algumas bases … tudo bem. Só não é uma função para mim mas sim para as pessoas que estudaram recursos humanos, por exemplo. (por isso é que escolheram essa área deduzo)

Mas o facto de estar nesta função faz-me conhecer o mercado (entenda-se: oferta) de uma outra maneira (pelo menos o do nosso setor) e ainda fico chocada como em pleno século XXI, com tantas formações que existem, com tantos modelos base de CV que se podem encontrar na net ainda se enviam currículos que metem medo. Eu recebo currículos em formato editável ‘word’ (mas porquê, é para eu preencher os espaços em branco?!), alguns cheios de erros de português, alguns com fotos menos próprias para colocar num CV (quer dizer, pelo menos para a função que eu procuro), coisas que não fazem sentido acontecer nos dias de hoje em que há tanta informação disponível.

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Mas voltando ao cerne da questão, esta função desgasta-me e deixa-me profundamente desmotivada. Claro que não é a minha função principal, não andamos todas as semanas a recrutar pessoas, mas infelizmente nos últimos 2 anos temos tido muitos processos de recrutamento, quer seja para aumentar a equipa quer seja para colmatar alguma vaga de alguém que saiu. E, como acho que já deu para perceber, eu não sou de recursos humanos, posso ter estudado um pouco na faculdade e talvez ter algum perfil para a função, mas não gosto de recrutar pessoas…nem sempre o nosso caminho nos encaminha para os sítios corretos, não é?

O processo de recrutamento é, à partida, injusto para ambas as partes. É ter que assumir certas coisas sobre aquela pessoa que, no dia da entrevista, até podia estar num dia menos bom; é ter que saber interpretar o ser humano, pois há sempre pessoas que se sabem vender muito bem, mas que no fundo é tudo muito oco (é como alguns comerciais que recebo na empresa, são capazes de me vender a minha própria mãe), é ter que dar um ‘não’ sem grande causa plausível ou um ‘sim’ duvidoso (é sempre com o beneficio da dúvida).

Mas quem recruta tem que ter um ponto de partida é certo, sendo essa base o currículo que se recebe. Mas de facto gabo a coragem dos colaboradores das empresas de recrutamento que têm que fazer isto todos os dias.

Eu tenho que fazer, por vezes apenas, e sinto-me agastada com isso. Já vivemos tempos que nos cansam mais, por tudo e mais alguma coisa, junto a isto o facto de ter que fazer alguma função contrariada e dá explosão … isto não anda fácil.

E o que é que nós podemos fazer quanto a isso? (estão vocês a perguntar que eu sei)

Pois nada, e a situação vai continuar, eu apenas tenho que aprender a adaptar-me e de qualquer forma apeteceu-me ‘deitar cá para fora’. ;)

Ser antes de Ter

Tri, 28.10.20

Cometemos sempre o mesmo erro: pensamos em algo que queremos muito fazer e começamos a pensar no que precisamos para concretizar essa coisa.

Por exemplo, há muito anos, quando decidi que queria muito dar uma oportunidade ao yoga comecei a pesquisar colchões, comparar características e preços, comprar calças de licra…mas faltou o inicial: começar a praticar yoga.

Então tive que me recentrar no essencial e começar efetivamente a praticar yoga (em qualquer tapete de casa) e com o apoio muito útil do youtube (que está recheado de excelentes aulas) e inscrever-me para começar a ter aulas também. Isso sim era a prioridade e não ter as melhores calças de ginástica ou o colchão profissional, até porque ter essas coisas não faria nada de bem pela minha pessoa, ao invés da dedicação à prática.

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E, como já disse, acho que cometemos sempre o mesmo erro porque comprar determinada coisa não nos vai dar mais paz, não nos vai tornar melhor pessoa, não nos vai tornar mais cultos (ou seja lá qual for o objetivo da atividade), simplesmente desperdiçamos tempo e dinheiro focando-nos no eu-ideal ao invés do nosso eu-real.

Por comprar um colchão de ginástica não significa que vou passar a fazer exercício todos os dias; não é por comprar umas botas de montanha que vou passar a fazer grandes caminhadas; nem o facto de ter aproveitado as promoções da feira do livro fazem com que seja um leitor mais assíduo.

O ideal é focarmo-nos em desenvolver melhores hábitos, em transformar a nossa rotina e tomar ações concretas de mudança na nossa vida em vez de esperar que tudo mude simplesmente. Focarmo-nos no nosso eu-real e perceber que alterações devemos implementar na nossa vida para conseguirmos ser o eu-ideal com que sonhamos.  

Assim, ser ter que vir antes do ter para que tudo na vida seja congruente e nos satisfaça.