Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

O Poder do Agora

Tri, 13.12.23

A magia dos livros, para além de nos permitirem viajar sem sair do lugar, é que sempre que os lemos e relemos em diferentes momentos da nossa vida, eles ressoam em nós de forma distinta. Por vezes, passam despercebidos, foram só mais um na lista, outras vezes permitem-nos atingir o clique que, sem termos consciência, precisávamos.

Aconteceu-me recentemente com o livro “O poder do agora” de Eckhart Tolle, que já tinha ligo há uns 5 anos, mas agora sim teve impacto. Como o próprio nome indicia, leva-nos a perceber (o que já todos sabemos na teoria, vá) que a vida deve ser apreciada no momento presente, no agora, não vivermos com a angústia do que já passou nem na ansiedade no incerto que o futuro nos pode trazer.

book.png

Vou deixar-vos um pequeno resumo, pode ser que ressoe em mais alguém e que vos leve a procurar o livro.

  1. Ter Consciência do Momento Presente: Tolle destaca que muitos de nós vivem presos a uma incessante corrente de pensamentos sobre o passado e o futuro, perdendo assim a riqueza do presente. A consciência do momento atual é fundamental para romper com esse ciclo e experimentar a verdadeira plenitude da vida. Por exemplo, quando cozinhar ou fizer uma caminhada, esteja totalmente presente no momento, ao invés de estar a pensar na lista das compras.
  2. Identificação com o Ego: O autor explora como a identificação excessiva com o nosso ego, a voz narrativa da nossa mente, é a fonte de grande parte do sofrimento humano. Refere-se à tendência de nos associarmos excessivamente com o nosso pensamento e não com aquilo que somos mesmo. Por exemplo, numa dada situação em que cometemos um erro, ao invés de nos rotularmos como um ‘fracasso’ ou ’incompetente’, há que observar esse erro como uma experiência isolada, separando-o da identidade pessoal. Assim, ao reconhecer que somos mais do que nossos pensamentos, conseguimos transcender os padrões de pensamento que nos limitam, alcançando uma liberdade interior.
  3. Aceitação Incondicional: Enfatiza a importância de aceitar o presente exatamente como ele é, sem resistência, seja mais ou menos positivo. Assim, se estivermos a atravessar um desafio, há que aceitá-lo, perceber que lição podemos tirar disso, em vez que tentar ignorar.
  4. Desapego do Materialismo: O autor explora como a procura constante por realizações externas muitas vezes leva à insatisfação crónica. Assim, o contentamento, surge quando nos desapegamos das expectativas sociais e materiais, encontrando alegria no momento presente, nas pessoas que nos rodeiam, no ser e estar.
  5. Relação com a Dor: Implica distinguir entre a dor inevitável da vida e o sofrimento que criamos pela resistência à dor. Se enfrentar uma perda, permita-se sentir tristeza, sem alimentar a narrativa mental que prolonga o sofrimento.
  6. Presença nas Atividades Diárias: Ele destaca a importância de trazermos a atenção plena para as atividades diárias, como comer, caminhar e realizar tarefas quotidianas. Ao fazer isso, transformamos essas atividades em oportunidades para uma conexão mais profunda com o momento presente.
  7. Silêncio Interior e Meditação: Incentiva a prática regular do silêncio interior e da meditação como meio de transcender a mente incessante. Essas práticas ajudam a alcançar um estado de presença e calma, e não precisa de ser ‘nenhum bicho de sete cabeças’, pode ser tão simples como sentar-se em silêncio durante alguns minutos e concentre-se na sua respiração, na sua barriga, como sobe e desce.

"O Poder do Agora" é um guia prático para uma mudança profunda na maneira como vivemos. Ao incorporar as ideias-chave de Tolle, podemos transcender as limitações dos padrões de pensamento habituais, abrindo caminho para uma vida mais plena e significativa.

Podem soar a clichés, porque na verdade os clichés são verdades que ouvimos e repetimos, mas parece que fica difícil de colocar em prática. Quando começamos a assistir às mudanças na primeira pessoa, então aí todo o discurso muda.

Ser antes de Ter

Tri, 28.10.20

Cometemos sempre o mesmo erro: pensamos em algo que queremos muito fazer e começamos a pensar no que precisamos para concretizar essa coisa.

Por exemplo, há muito anos, quando decidi que queria muito dar uma oportunidade ao yoga comecei a pesquisar colchões, comparar características e preços, comprar calças de licra…mas faltou o inicial: começar a praticar yoga.

Então tive que me recentrar no essencial e começar efetivamente a praticar yoga (em qualquer tapete de casa) e com o apoio muito útil do youtube (que está recheado de excelentes aulas) e inscrever-me para começar a ter aulas também. Isso sim era a prioridade e não ter as melhores calças de ginástica ou o colchão profissional, até porque ter essas coisas não faria nada de bem pela minha pessoa, ao invés da dedicação à prática.

be not have.jpg

E, como já disse, acho que cometemos sempre o mesmo erro porque comprar determinada coisa não nos vai dar mais paz, não nos vai tornar melhor pessoa, não nos vai tornar mais cultos (ou seja lá qual for o objetivo da atividade), simplesmente desperdiçamos tempo e dinheiro focando-nos no eu-ideal ao invés do nosso eu-real.

Por comprar um colchão de ginástica não significa que vou passar a fazer exercício todos os dias; não é por comprar umas botas de montanha que vou passar a fazer grandes caminhadas; nem o facto de ter aproveitado as promoções da feira do livro fazem com que seja um leitor mais assíduo.

O ideal é focarmo-nos em desenvolver melhores hábitos, em transformar a nossa rotina e tomar ações concretas de mudança na nossa vida em vez de esperar que tudo mude simplesmente. Focarmo-nos no nosso eu-real e perceber que alterações devemos implementar na nossa vida para conseguirmos ser o eu-ideal com que sonhamos.  

Assim, ser ter que vir antes do ter para que tudo na vida seja congruente e nos satisfaça.

A arte de dizer 'não'

Tri, 22.10.20

Não quero. Não posso. Não me apetece.

Negar convites ou solicitações não tem que ser necessariamente sinónimo de má vontade ou preguiça. Pode ser, simplesmente, uma escolha consciente que fazemos para impedir a sensação de que todos “mandam” na nossa vida, nas nossas escolhas, nos nossos horários.

Começar a dizer ‘não’ sem sentimento de culpa, é libertador. (então se for antes de perdermos a cabeça, ainda melhor)

child-saying-no_7710-78.jpg

Como todos sabemos, a forma como as sociedades estão agora desenhadas leva-nos a viver na correria; todos querem tudo ‘p’ra ontem’, todas chamadas, mensagens ou e-mail’s têm que ser respondidas na hora porque todos sabem que estamos disponíveis em qualquer canto do mundo, então já ninguém sabe esperar…já não há paciência nem tolerância.

Dizemos sim porque é mais fácil, evita os olhares desconfortáveis das outras pessoas, evita o bater da porta, a resposta com frieza na voz, evita passarmos a ouvir “também nunca se pode contar contigo”.

No trabalho dizemos sim porque temos de dizer, não é verdade? Ainda assim, por vezes poderíamos tentar sugerir outras opções ou explicar que não pode ser quando a pessoa quer mas sim mais tarde. No fundo dizemos sim por receio da incerteza da atitude da outra pessoa.

“Preciso de tempo para mim”, acaba por ser a nossa desculpa quando já não dá mais e temos mesmo que dizer um não a alguém, mas é um não com justificação.  Sentimo-nos a multiplicar por diversas tarefas, todos os dias, acompanhado de um prejuízo da vida pessoal e familiar.

Mas tal frase traz ao de cima o cerne do problema pois, de facto, não vamos arranjar mais tempo, quando muito (e aqui reside parte da solução), vamos arranjar forma de termos menos coisas para fazer.

(E como raio é que faço isso? - perguntam vocês)