as 24 horas não são iguais para toda gente
Do ponto de vista científico, sem dúvida que todos nós temos as mesmas 24 horas, isso é incontestável. Mas, do ponto de vista social e económico, as coisas não são assim tão simples.
Creio que todos conseguimos concordar que é completamente diferente alguém de classe média, que tem o seu negócio, por vezes até consegue trabalhar a partir de casa, tem uma empregada doméstica que auxilia nas tarefas de casa 2x por semana e ainda a ajuda dos sogros para ir levar e buscar os miúdos à escola; de alguém que ganha o salário mínimo, que se desloca de transportes públicos demorando, todos os dias, 1h40 para chegar ao trabalho e é responsável por todas as tarefas domésticas, por exemplo.
Ao ler este pequeno descritivo, conseguimos perceber que, claro que o dia de ambas dura 24h, mas não dispõem ambas das mesmas 24h para lutar pelos seus sonhos e objetivos, para cuidarem de si, correto?
Então vamos começar a deixar de lado este discurso motivacional de que todos temos pela frente um novo dia para fazer acontecer, para ser diferente, para impactar, porque, por vezes, não é simplesmente possível. Todos temos um novo dia, é certo, para fazer o melhor que podemos, para sermos gratos pelo que temos porque o futuro pode ser ainda mais brilhante, mas não podemos querer que todos usemos as 24h do dia da mesma forma “produtiva” que a sociedade definiu.
É fundamental reconhecer que as circunstâncias de vida de cada indivíduo podem influenciar significativamente a forma como as 24 horas do dia são distribuídas e utilizadas, apesar de uma gestão de tempo eficaz poder auxiliar e facilitar. Os exemplos acima demonstram que nem todos têm as mesmas oportunidades e recursos para gerir o seu tempo da mesma maneira, seja por falta de condições, de recursos, de apoio, de acesso a certos serviços, etc.
No entanto, tal não significa que seja impossível para alguém numa situação mais desfavorável conseguir fazer uma gestão eficaz do tempo e das suas prioridades, ainda que com desafios maiores e mais exigentes.
Devemos dar sempre o nosso melhor, sim. Demos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá, sim. Devemos perceber que na dificuldade, por vezes, há o crescimento. Devemos aprender e aplicar ferramentas que nos permitam a organização e o foco naquilo que queremos mesmo e assim ter a sensação de controlo do nosso tempo.
O que não podemos é sair frustrados devido à comparação com outras vidas com as quais não podemos comparar; que só mostram aquilo que interessa, e nunca o lado cinzento, que só nos rebaixam, ainda que inconscientemente, porque não conseguimos fazer tanto como eles, não conseguimos ser tão organizados, tão produtivos e o nosso dia parece que não dá para nada, no entanto, nas vidas que vemos os dias são enormes, têm certamente mais de 24h para conseguirem fazer tanta coisa…
Nas comparações só vemos os resultados, não o trabalho e esforço daquela pessoa, o que está por detrás; aquela pessoa não somos nós e os resultados em nós, do mesmo esforço, não dariam a mesma coisa. Comparar só causa ansiedade.
Vamos viver a vida, o melhor que conseguimos e sabemos e, de preferência, vamos aprendendo pelo caminho; assim vivemos cada vez melhor.