Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

autorização para ser preguiçosa

Tri, 10.10.24

A sociedade é de modas (ou então são só as pessoas que me rodeiam vá) e agora toda gente é pouco produtiva, preguiçosa para trabalhar e as horas extras são todas forjadas.

Isto confunde-me um pouco porque acho que ser-se preguiçosa ou trabalhadora é como ser-se feliz, não são coisas que se são, estão-se.

Eu considero-me uma pessoa trabalhadora e empenhada, gosto de estudar coisas novas, muitas delas aplicáveis na minha profissão, ponho em prática vários projetos. Mas também sou muito preguiçosa (e procrastinadora vá) tanto em tarefas que gosto de fazer como noutras que me custam efetivamente.

Mas agora há esta moda, quase como uma norma instituída: se queres ter sucesso, não podes ser preguiçosa! Tens que acordar às 5 da manhã e fazer uma catrefada de coisas antes de “o dia começar” e ires trabalhar ou tratar dos miúdos, antes de efetivamente “começares a fazer coisas”.

Mas não posso ser preguiçosa nunca? Nem aos domingos? Eu gosto de rentabilizar muito bem o meu tempo, coloco tudo na agenda para não falhar e encaixar todos os compromissos (nem que seja comprar a comida do cão), mas também gosto de ter espaço para fazer: nada. Que prazer nada fazer.

preguiça.jpg

Atenção que eu gosto do meu trabalho, sou muito grata pelo que faço e tenho, mas há dias em que estou preguiçosa, estou mais cansada e isso reflete-se parecendo que sou menos empreendedora. Em tempos já me preocupei muito com isso, tentando perceber os motivos, se estava desmotivada, o que devia mudar, qual a causa, etc mas entretanto aprendi que não está mal. Simplesmente tenho fases mais atribuladas, com mais projetos pessoais que também exigem de mim, com tosse que me dá más noites de sono e isso torna-me menos ativa e trabalhadora, parece que fico com falta de iniciativa e vou fazendo o necessário à velocidade de cruzeiro.

Mas a Tri ‘fazedora’ volta. Volta sempre. Até lá estou só conformada, preguiçosa, mas feliz. Mas não se preocupem (caros colegas e chefes) porque voltarei a ser ativa e produtiva; preguiçosa não é uma característica minha é um estado de espírito momentâneo.

Por isso, se queres ter sucesso aceita todas as vertentes e estados de espírito na tua vida, nós somos compostos pelo todo não apenas pelo lado “cor-de-rosa” que nos querem impingir.

Assim, se a preguiça bater à porta, deixa-a entrar, convida-a a tomar um chá até ser hora de se ir embora. Aí ela vai, mas há-de sempre voltar. E está tudo bem.

ser mulher é uma dádiva

Tri, 23.09.24

“Que rico xuxu, ai o que eu te fazia!”

Sete da manhã, passeio matinal com o meu cão, na paz e sossego, a cidade ainda dorme, não me cruzo com ninguém pelas ruas, no entanto, foi com essa frase que fui abordada hoje de manhã por parte de um homem, que passou dentro de uma carrinha em direção às obras que decorrem aqui perto, que achou ter o direito de dizer o que quer sobre as outras pessoas, como se tal fosse muito engraçado ou até lisonjeiro. Estava eu perfeitamente normal, com umas calças de desporto e uma sweat largueirona e quentinha para o frio da manhã.  

Quão triste, desmotivador, frustrante, incomodativo e exasperante uma situação destas é; e quão recorrente….

Ser mulher é isto, é sentirmos constrangimento por ouvirmos bocas na rua, é termos receio de andar sozinhas a partir do momento em que escurece, é usarmos phones nos ouvidos para não ouvirmos, é deixarmos de vestir aquilo que gostaríamos para que não reparem em nós.
Ser mulher é tentarmos ser transparentes porque quando temos alguma cor, ela nos faz tropeçar em pessoas sem um pingo de consciência, pessoas essas que parece que não têm mãe, irmãs, tias ou primas.
Ser mulher é termos medos e receios com “o que vai parecer bem”, é rir devagarinho para não estorvar nem chamar a atenção, é não opinar muito, afinal, uma mulher bonita e cuidada não pode ser inteligente e ter uma carreira de sucesso.

Ser mulher é sabermos que vamos receber menos por um trabalho, com as mesmas tarefas e obrigações, mesmo tendo as mesmas competências.
Ser mulher é cumprir, simplesmente, sem grande alarido, não sejamos nós acusadas de sermos histéricas, emocionais ou descontroladas.

Muito se tem lutado, mas pouco tem melhorado, e ser mulher continua a estar muito longe da igualdade que se almeja.

“Em todo o mundo, a situação das mulheres é pior do que a dos homens pelo simples facto de serem mulheres. A realidade é ainda pior para as mulheres que pertencem a minorias, mulheres idosas, mulheres portadoras de deficiência, migrantes e refugiadas.” (ONU 2024)

Quero continuar a ter esperança, quero que a luta dos meus antepassados e de tantas ativistas do meu tempo faça sentido e dê resultado porque ser mulher é lindo é só é pena que nos estraguem esta viagem.


Na verdade, ser mulher é uma dádiva, ser mulher é viver com as emoções à flor da pele, mas com racionalidade.

Ser mulher é querer, é poder, é concretizar, é disciplina e entrega.
Ser mulher é o nascimento, é beleza, é o cuidar, o alimentar, mas também o construir, manter e estruturar.
Ser mulher é, e só pode ser, ter e estar exatamente no mesmo lugar do que qualquer homem. Não somos mais, mas também não somos menos, merecemos exatamente as mesmas oportunidades e respeito.  
Nunca, temos que nos tapar ou esconder para “não nos metermos a jeito”, para não parecermos isto ou aquilo.

A mulher pode e deve ser única, tal como é, é essa a beleza de todo o ser.
Que nunca permitamos que a nossa forma de estar defina a nossa forma de ser.

as 24 horas não são iguais para toda gente

Tri, 21.02.24

Do ponto de vista científico, sem dúvida que todos nós temos as mesmas 24 horas, isso é incontestável. Mas, do ponto de vista social e económico, as coisas não são assim tão simples.

Creio que todos conseguimos concordar que é completamente diferente alguém de classe média, que tem o seu negócio, por vezes até consegue trabalhar a partir de casa, tem uma empregada doméstica que auxilia nas tarefas de casa 2x por semana e ainda a ajuda dos sogros para ir levar e buscar os miúdos à escola; de alguém que ganha o salário mínimo, que se desloca de transportes públicos demorando, todos os dias, 1h40 para chegar ao trabalho e é responsável por todas as tarefas domésticas, por exemplo.

Ao ler este pequeno descritivo, conseguimos perceber que, claro que o dia de ambas dura 24h, mas não dispõem ambas das mesmas 24h para lutar pelos seus sonhos e objetivos, para cuidarem de si, correto?

Então vamos começar a deixar de lado este discurso motivacional de que todos temos pela frente um novo dia para fazer acontecer, para ser diferente, para impactar, porque, por vezes, não é simplesmente possível. Todos temos um novo dia, é certo, para fazer o melhor que podemos, para sermos gratos pelo que temos porque o futuro pode ser ainda mais brilhante, mas não podemos querer que todos usemos as 24h do dia da mesma forma “produtiva” que a sociedade definiu.

É fundamental reconhecer que as circunstâncias de vida de cada indivíduo podem influenciar significativamente a forma como as 24 horas do dia são distribuídas e utilizadas, apesar de uma gestão de tempo eficaz poder auxiliar e facilitar. Os exemplos acima demonstram que nem todos têm as mesmas oportunidades e recursos para gerir o seu tempo da mesma maneira, seja por falta de condições, de recursos, de apoio, de acesso a certos serviços, etc.

No entanto, tal não significa que seja impossível para alguém numa situação mais desfavorável conseguir fazer uma gestão eficaz do tempo e das suas prioridades, ainda que com desafios maiores e mais exigentes.

relogio.png

Devemos dar sempre o nosso melhor, sim. Demos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá, sim. Devemos perceber que na dificuldade, por vezes, há o crescimento. Devemos aprender e aplicar ferramentas que nos permitam a organização e o foco naquilo que queremos mesmo e assim ter a sensação de controlo do nosso tempo.

O que não podemos é sair frustrados devido à comparação com outras vidas com as quais não podemos comparar; que só mostram aquilo que interessa, e nunca o lado cinzento, que só nos rebaixam, ainda que inconscientemente, porque não conseguimos fazer tanto como eles, não conseguimos ser tão organizados, tão produtivos e o nosso dia parece que não dá para nada, no entanto, nas vidas que vemos os dias são enormes, têm certamente mais de 24h para conseguirem fazer tanta coisa…

Nas comparações só vemos os resultados, não o trabalho e esforço daquela pessoa, o que está por detrás; aquela pessoa não somos nós e os resultados em nós, do mesmo esforço, não dariam a mesma coisa. Comparar só causa ansiedade.

Vamos viver a vida, o melhor que conseguimos e sabemos e, de preferência, vamos aprendendo pelo caminho; assim vivemos cada vez melhor.

que geração estamos a criar?!

Tri, 02.02.24

Uma criança é sodomizada, no dia do seu aniversário, na sua escola por 8 colegas incluindo o seu próprio irmão…se não é um enredo para um filme de terror, então não sei o que é.

Confesso que, atualmente, evito ler noticias, ligar a televisão sequer, porque tudo o que nos chega é negro, é podre, é um retrato da sociedade atual do mais deprimente que existe. Tento pesquisar notícias positivas e quando quero saber como está o mundo vou eu à procura da informação ao invés de deixar que “me entre pelos olhos e cabeça adentro”.

Esta semana, esta notícia chocou-me, incomodou-me, tirou-me o sono…não consigo deixar de pensar, como vai ser o futuro desta criança? Como é que tal acontece na escola? Como está a educação e a cabeça daqueles miúdos a ser moldada para chegar a tal ato de maldade?

Mas se as crianças vão para uma escola, a responsabilidade neste tipo de casos, é da própria escola. Será o ambiente escolar assim tão violento?

Falta de vigilância, falta de paciência, falta de profissionalismo, falta de respeito, falta de civismo…é o que corre nos corredores das nossas escolas. Ainda temos algumas auxiliar “à antiga”, das boas, atentas e atenciosas (conheço algumas, felizmente), mas são tão raras. A maioria dos casos não tem formação e competência para exercer as funções e, para além disso, não querem saber.

Esta faixa etária, pré adolescência chamam, é algo complicada, já todos passamos por lá e sabemos, mas não pode servir de desculpa, há que haver respeito e tolerância…valores base.  Obviamente que, quando acrescemos a isso o facto destas crianças nem sempre terem um ambiente familiar estável e tranquilo, origina que manifestem as suas frustrações fazendo este tipo de 'asneiras' macabras.  

O castigo de tal ato não pode ser limitado a 4 dias de suspensão. 4 dias de férias e depois voltam como se nada fosse. Não! Estes miúdos deveriam ser acompanhados, perceberem o que fizeram, o impacto que tal vai ter na vida de outrem, irem para um colégio inclusive…a escola, acima de tudo, deveria ser punida!

A base do carácter, os valores, a educação e o bom comportamento deve ser passada em casa e na Escola, se a sociedade não endereça estas questões com toda a seriedade, então estará perdida. E não adianta transferir a responsabilidade para a tecnologia, os jogos, as redes sociais e afins, quando o ponto fulcral do problema é a sistêmica desatenção que as crianças têm da sociedade adulta que desistiu de lhes ser exigentes e responsável pelo seu carácter em construção.

Em que mundo estamos, que crianças que deviam brincar com outras crianças e ser felizes com pequenas coisas se transformam em abusadores de um colega e rasgam a sua folha de vida transformando-a para sempre?

Bem como a vida destes 8 miúdos, destas crianças que fizeram o que fizeram e sabemos lá porque o fizeram. Onde foi que a vida lhes foi tão cruel ao ponto de se transformarem nestas pessoas?! E os Pais, que acredito (e espero!) que estejam destroçados sem acreditar no resultado da educação que estão a dar aos seus filhos…ou apáticos e desinteressados, quando uma mãe cujo o filho sofreu o que sofreu numa sexta-feira na escola e só leva o filho ao médico na segunda-feira por insistência e obrigação da CPCJ…tudo está mal nesta história.  

É mais um caso em que a justiça vai falhar, não por incúria, mas por falta de meios, para ajudar e para castigar.

Quando a desgraça se torna banalidade, nasce a indiferença e vai-se o respeito, a empatia e capacidade de olhar para o lado; é aqui que reside o problema desta constante avalanche de crimes e horrores televisivos diários.

É do amor que vem a cura para esta sociedade. Temos de o ensinar pelo exemplo.

isto de errar

Tri, 19.06.23

Se até as máquinas cometem erros, não podemos exigir que os humanos não o façam e sejam exímios. E nas empresas estão humanos. (pasmem-se...)

No outro dia aqui na empresa um colega enganou-se e trocou uma peça que lhe foi pedida, cometeu um erro. E apenas isso, um erro, disposto a corrigir o mesmo de seguida.

Ele foi quase crucificado por isso.

Eu percebo que diferentes erros têm um impacto (e importância) diferente na prossecução da atividade da empresa, há coisas mais graves que outras, ainda assim todos erramos, é inevitável, no entanto, a diferença está na forma como lidamos com isso. (um erro de um médico pode levar à morte de uma pessoa, portanto sim, os erros têm pesos diferentes…)

O erro é sistemático? Erramos mas não estamos preocupados com o impacto dessa falha nem as suas consequências?

Ou corrigimos de imediato, desculpamos e fazemos os possíveis para não prejudicar nada nem ninguém?

Accounting-for-Human-Error-Probability-in-SIL-Veri

Todos nós cometemos erros, no entanto, enquanto alguns são simples e fáceis de resolver, outros têm uma repercurssão maior. Podem até ser irreversíveis, em algumas situações. Não obstante, sejam quais forem as circunstâncias, precisamos de assumir que errámos, ao invés de esconder e lidar com as consequências dos erros cometidos arranjando a melhor solução possível.

Estamos todos expostos ao fracasso. Esta é uma realidade que pode afetar qualquer área da nossa vida: um amigo desilude-nos; a nossa escolha profissional não foi a mais acertada; perdemos o campeonato de um qualquer desporto; etc.

Não obstante, se assumirmos a falha com a atitude certa, aprendemos, crescemos, saímos mais fortalecidos.

Nós somos seres imperfeitos, eu acredito, mas andamos a vender a ideia da perfeição e toda gente procura a foto perfeita, a relação perfeita, o corpo perfeito…

Quando admitimos um erro, importunamos o nosso ego negativo, que gosta de estar sempre no poder, e vemos isso como um sinal de fraqueza, de ignorância, uma forma de nos menosprezarmos.

Mas é precisamente o contrário, aceitar que temos falhas mostra que realmente somos fortes e humildes para compreender que somos imperfeitos, precisamos de evoluir e estar em constante melhoria e aprendizagem ao longo da vida.

 

Por isso, o erro do colega, de facto, teve impacto fazendo atrasar a obra mas assim que foi detetado, foi prontamente corrigido para minimizar os prejuízos e creio que isso é que é o importante.

 

Isto para lembrar que errar é uma oportunidade de corrigir.

Saber falhar é uma virtude, e das raras diria eu. Vamos todos errar melhor e ser melhores pessoas?

as vidas que nos rodeiam

Tri, 26.05.23

Há sempre histórias que nos encontram para percebermos que não podemos mesmo reclamar do nosso lugar de privilégio...que gratos devemos ser todos os dias.

Esta semana a senhora da limpeza esteve ausente, na minha empresa,  e veio uma colega, da mesma empresa, substituí-la. Eu gosto de conhecer as pessoas, saber quem me rodeia, conhecer as suas histórias e esta semana dispendi um pouco de tempo a falar com ela.

A M. trabalha durante as manhãs nesta empresa de limpeza mas tem um trabalho a full time de onde sai às 2h da manhã.

Tem que fazer a limpeza da empresa cliente que lhe está habitualmente destacada e juntar a isso, a sua vinda aqui à empresa para substituir a colega, durante o tempo necessário.

Para além disso, tem um part-time ao fim de semana onde pode ter que fazer as mais variadas coisas, desde bengaleiro numa festa, divulgação de produtos, etc.

A M. está sozinha com o filho e o dinheiro não chega para as contas, acumula empregos como quem junta cromos numa coleção. A M. passa os dias a trabalhar para que nada falte ao filho, no entanto, a ele, falta o essencial...falta ela.

Ela tem, felizmente, a ajuda da mãe que vai buscar o menino à escola e trata dele até ela o ir buscar às 2h da manhã, mas ...

Que futuro, que esperança, tem esta família?

Qual é o tempo para estar, se as necessidades básicas não estão ainda suprimidas e é necessário trabalhar até à exaustão para ter os mínimos...?

Como encarar o futuro com "um sorriso no rosto"?

Quão gratos devemos mesmo ser, todos os dias, porque mesmo que achemos que nada está "perfeito", que tivemos uma chatice qualquer ... há sempre histórias de superação, resiliência, de luta constante, que nos deixam a um canto.

 

ter a consciência da nossa finitude

Tri, 10.05.23

Eu sei que sempre ouvimos dizer que todos “estamos a morrer”, que “desde que nascemos que estamos em contagem decrescente” e outros clichés do género (e são verdade, eu sei!) mas quando isso se torna palpável, quando esse tempo que nos resta é mensurável, o que fazemos com essa informação?

Fomos criados com medo da morte, um medo quase instintivo, (se não se falar pode ser que não exista, não é?) o desconhecido é algo que nos encanita o espírito, não saber ao certo o que acontece gera-nos angústia pelas perguntas sem resposta que acumulamos. Naturalmente que tentamos evitar a morte e fazemos o possível para que tal não aconteça, no entanto, é a única certeza que temos. É inevitável! (e vai mais um cliché)

O que aconteceria se, de repente, soubéssemos exatamente o dia em que morreríamos? O que faríamos? Como iríamos usar o nosso tempo limitado na Terra da melhor forma possível?

Segundo um estudo realizado por cientistas da Universidade de Bar Ilan, em Israel, o cérebro tem um mecanismo de defesa que nos protege do medo existencial da morte. Ou seja, no momento em que adquirimos a capacidade de perspetivar o nosso futuro, percebemos que num dado momento iremos morrer e não há nada que se possa fazer em relação a isso. No entanto, isso é contranatura, porque aquilo que o nosso organismo biológico pretende é lutar para nos manter vivos, daí afirmarem que o nosso cérebro nos defende da morte.

tempo.png

Confesso que também tento não pensar muito no assunto, limito a tentar viver a vida o melhor que consigo e me é possível. Como já partilhei por aqui várias vezes, tenho o meu livro da gratidão há anos onde escrevo diariamente. Sou grata todos os dias por acordar neste país, por estar junto da minha família, por ter saúde e uma série de outras coisas. E, efetivamente, todos os dias tenho algo por que ser grata, pequenas coisas mesmo, às vezes sou muito bem atendida no supermercado e já acho isso digno de nota.

Mas ter a consciência que temos que desfrutar todos os dias, estar para as nossas pessoas porque nunca sabemos bem quando é o último … é algo que me custa um pouco a conceber, confesso.

O meu tio tem neste momento três problemas de saúde (não vale a pena entrar em detalhes médicos que são tão complexos que nem eu percebo bem) e não consegue tratar. Qualquer tratamento que faça para um deles, agrava os outros. O último a aparecer foi o cancro que não pode “ver quimio” porque acentua a progressão dos outros dois…e assim, em três meses te dão um prazo de validade…te dizem «se ainda tinhas planos futuros, sonhos por realizar, esquece, porque não dá para prolongar o prazo».

De facto, não há nada que se possa fazer, nada para tomar, basicamente é esperar pelo dia…pelo último dia.

Ele está bastante tranquilo com a sua finitude, quase que conformado…às vezes apetece abanar «podes, pelo menos, ficar um pouco mais triste por partires»?

Mas não regras de como devemos reagir a estas notícias, não há certo e errado nestas coisas, não há procedimentos standard a seguir, ninguém nos diz como nos devemos sentir nestes momentos, como é ficar sem chão…

Não consigo imaginar o que é saber a minha validade, saber o tempo que me resta…o que se faz com essa informação?

Corremos contra o tempo tentando fazer tudo o que temos na lista que escrevemos aos 30 anos? Queremos ver todas as pessoas que nos rodeiam? Ignoramos e vivemos a vida com a rotina normal, sabendo, de antemão, que já não precisamos programar onde vamos na próxima passagem de ano…?

A vida prega-nos partidas, como bem sabemos, difícil é dar a volta e torná-las em oportunidades…

sempre assim fiz e sempre correu bem

Tri, 24.03.23

É daquelas respostas que me deixam fora de mim, como se o facto de termos bem feito algo em determinado tempo significa que tal não pode ser sujeito a mudanças e melhorias, porque “em equipa vencedora, não se mexe”.

Não é verdade, se os tempos mudam, o nosso meio envolvente muda, nós também temos que ir alterando os nossos hábitos, rotinas, manias, forma de fazer as coisas, seja o que for, mas as coisas podem e devem ir evoluindo.

E isso também é transversal à parentalidade, percebo as tias e avós que dão milhentos conselhos de ‘como bem fazer’, mas nem todas essas dicas e mezinhas funcionam hoje em dia, ou fazem sequer sentido.

Há décadas era o melhor que havia, e todos davam o seu melhor, entretanto as gerações são mais instruídas, mais curiosas, e mesmo a forma de educar mudou, ou deveria mudar. (e atenção que não estamos a dizer que os valores base não se mantêm)

Os meus pais faziam-me isso e estou aqui hoje, gordinho e tudo”, adoro estas constatações como se o facto de esta pessoa ter “sobrevivido” à sua infância é motivo suficiente para validar os métodos educacionais dos seus pais como excelentes. E até podem ter sido, atenção, não sabemos, mas também podem não ter sido e está tudo bem, desde que tenhamos essa consciência e façamos algo para mudar isso mesmo.

Mas será que poderia ter sido feito ainda melhor? Ou seja, além de eu ter sobrevivido será que poderia ser uma pessoa mais confiante, decidida e feliz?

The-Same-Old-Thinking-e1450563823707.jpg

Em diferentes gerações existiram diferentes métodos de educação, pais que batiam, crianças a ficarem de castigo, pouca demonstração de carinho e afeto, crianças deixadas todo o dia na frente de uma televisão, etc.

Foi resultando, foi. Somos todos adultos hoje com as nossas memórias que também incluem, um passeio em família ao domingo, um dia especial com direito a um gelado, uma volta de bicicleta/triciclo.

Todos os pais fizeram o melhor que sabiam com as ferramentas que tinham, não duvido! Mas não implica que tenha sido perfeito e não implica que continuemos a perpetuar alguns dos erros geração após geração.

A parentalidade consciente é um tema fascinante (partilho convosco uma autora que adoro, Mikaela Övén) e eu acho que torna a parentalidade quase num projeto, como se criar aquele Ser fosse um projeto para o qual temos que ter um plano, ter consciência do que vamos fazer e dizer e não improvisar; um projeto para o qual fazemos todo um planeamento prévio com a obrigação de criar o melhor Ser possível, com valores humanos que tanta falta fazem no mundo.

Vamos tentar que não passe desta geração, os gritos constantes, a violência física, os abusos verbais, a manipulação da autoestima, as críticas excessivas.

“Em cada geração, só um pequeno grupo pode mudar o destino da humanidade: os adultos com crianças pequenas.” (Lar Montessori)

Vamos elogiar, incentivar, promover o espirito crítico, ensinar a tolerância e respeito, espalhar o amor, incentivar a partilha.

E isto tudo porque no supermercado uma mãe se passou com o miúdo, que devia ter cerca de 3 anos, como se toda a gritaria e o discurso dela fossem entendidos na perfeição por aquele pequeno Ser que sabe lá o que é inflação, e se pode ou não sonhar com um novo carro de bombeiros.

a moda da positividade

Tri, 20.02.23

“Aprecia as pequenas coisas do teu dia”

“Mantém o pensamento positivo”.

Não é difícil de perceber que o tema felicidade e positivismo está na moda, diversos negócios são criados em torno dessa temática, livros e filmes de autoajuda no Top de vendas das livrarias, um breve deslizar pelas redes sociais e temos imensas frases bonitas de motivação, a quantidade de autores e especialistas sobre este assunto aumenta a cada dia, tudo para nos ajudar a mudar o foco, a conseguir chegar .  

Atualmente, é-nos ensinado que os vencedores mantêm o pensamento positivo, logo, que o nosso sucesso depende da nossa capacidade de evitar ser negativo.

A verdade, é que por vezes pode ser altamente frustrante tentar manter essa positividade.

Os efeitos da positividade são comprovados e podem fazer imensamente bem ao nosso corpo e mente (eu sou adepta, atenção). O problema está em supervalorizar essa positividade como forma de colocar um véu sobre sentimentos, dos quais não queremos falar, ou sobre emoções com as quais não sabemos lidar. 

Para que exista um equilíbrio, durante a vida temos que vivenciar momentos desapontantes, tristes, desencorajadores ou frustrantes. Por vezes, sentimo-nos menos bem sem nenhuma razão aparente e está tudo certo.

E quando a vida nos manda algumas pedras, não pegamos nelas para fazer uma ponte, não, a maioria de nós ressente-se, fica triste, tem momentos de pessimismo, dúvidas e até pânico.

E será que é assim tão mau estes sentimentos e pensamentos aparecerem na nossa vida? Significa que estaremos destinados ao fracasso só porque não vemos borboletas a voar todos os dias?

pensamento-positivo-e-negativo-vetor.jpg

E a pressão toda que isto cria já pensaram?! Os “positivos” acreditam que as suas vidas têm que ser maravilhosas, realizadas e plenas, e que tal só se consegue pensando positivo.

E estas ideias estão a ficar tão enraizadas (por todos os workshop e livros que se promovem) que alguém que esteja a passar um período menos bom, que tenha algum tipo de problema ainda fica mais em baixo pois crê que, para além de “já estar tudo estar mal” na sua vida, a culpa ainda é dela, por não conseguir pensar positivo e atrair coisas boas. 

E atenção que eu sou defensora do pensamento positivo, acredito genuinamente que ajuda a alcançar sonhos, tal como sermos gratos diariamente pelas coisas que vamos tendo no caminho, mesmo as más que podem ser momentos de aprendizagem.

Ao longo do último ano tive dúvidas sobre mim, pus em causa os meus conhecimentos (da vida no geral), criei conflitos com a minha área de formação (julgo genuinamente que não é a minha área, apesar de ter estudado para tal, não me apaixona), ia para um trabalho que me desgastava cada dia mais e onde saía frustrada com algumas das tarefas inerentes, algumas crises com a minha irmã, com quem sou incompatível (temos formas de ver, e viver, o mundo antagónicas), tive o meu pai no hospital e duvidei do nosso propósito no mundo … e tudo me ia deitando abaixo, mais e mais, tive um esgotamento quando, na verdade, ainda tinha muitos motivos pelos quais estar grata: eu tinha saúde, tinha a minha casinha e estava a conseguir pagá-la, tinha trabalho, a família junto de mim, fazia o meu voluntariado, conseguia estar com amigos e, portanto, pondo na balança devia estar feliz e contente com a vida. Isso é um facto! Mas não estava.

E hoje perdoo-me pela forma como lidei com tudo; perdoo-me por achar que estava errada ao não estar de bem com a vida com tudo de bom que já me deu; perdoo-me por achar que era fraca, que devia conseguir dar a volta a uma dada situação, quando na verdade, eu simplesmente tinha que viver a situação, o tempo que foi preciso e sair dela mais forte.

Por isso, sim, ter uma mente positiva é algo bom, mas se tivermos um dia mau ou nos sentirmos mais pessimistas, devemos aceitar a situação, que faz parte não estar sempre tudo cor-de-rosa, ao invés de tentarmos bloqueá-la.

Assim, vamos começar a pensar duas vezes antes de darmos conselhos como “não estejas ansioso” ou “vai ficar tudo bem”, que é interpretado como “não sintas essa emoção que é errado” quando na verdade devemos senti-la, processá-la e superar e, depois sim, voltarmos a estar bem e positivos.

Uma dica preciosa que partilho, e que ponho em prática diariamente é praticar a gratidão. Tenho um caderno na mesinha cabeceira e todos dias os dias penso sobre o meu dia e algo pelo que estou grata. Hoje ouvi os passarinhos a cantar e o sol a nascer no passeio matinal com o meu cão (matinal entenda-se 6h da manhã).

É a chamada positividade mais branda, permite-nos aperceber do bom que temos na vida e ir aprendendo a ficar feliz por pequenas conquistas ao invés da euforia passageira.

Acima de tudo, há que entender que entender que o ser humano é formado por um espectro de emoções, e que quando nos permitimos sentir cada uma delas, estamos a ser, simplesmente, normais e saudáveis. Eu demorei a aprender isso, espero que vocês sejam mais rápidos.  

mas chegar atrasado é moda?

Tri, 08.06.21

E ninguém me avisou.

Não quero apontar o dedo a ninguém nem tornar isto numa questão regional, mas, todas as minhas reuniões no Sul (é que seja com quem for) começam tarde, ou tenho muito azar, ou é hábito.

(eu sei que isto é uma terra de trânsito crónico, mas já todos sabem disso, portanto convém sair mais cedo!)

De uma forma geral, cada vez mais noto uma tendência crónica de todas as pessoas para não chegarem a horas…pensei que os confinamentos e reuniões à distância de um clique tivessem melhorado isto (até porque se só precisamos fazer um clique para começar, bem que podemos chegar à hora marcada) mas parece que não.

clock.jpg