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Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

sempre assim fiz e sempre correu bem

Tri, 24.03.23

É daquelas respostas que me deixam fora de mim, como se o facto de termos bem feito algo em determinado tempo significa que tal não pode ser sujeito a mudanças e melhorias, porque “em equipa vencedora, não se mexe”.

Não é verdade, se os tempos mudam, o nosso meio envolvente muda, nós também temos que ir alterando os nossos hábitos, rotinas, manias, forma de fazer as coisas, seja o que for, mas as coisas podem e devem ir evoluindo.

E isso também é transversal à parentalidade, percebo as tias e avós que dão milhentos conselhos de ‘como bem fazer’, mas nem todas essas dicas e mezinhas funcionam hoje em dia, ou fazem sequer sentido.

Há décadas era o melhor que havia, e todos davam o seu melhor, entretanto as gerações são mais instruídas, mais curiosas, e mesmo a forma de educar mudou, ou deveria mudar. (e atenção que não estamos a dizer que os valores base não se mantêm)

Os meus pais faziam-me isso e estou aqui hoje, gordinho e tudo”, adoro estas constatações como se o facto de esta pessoa ter “sobrevivido” à sua infância é motivo suficiente para validar os métodos educacionais dos seus pais como excelentes. E até podem ter sido, atenção, não sabemos, mas também podem não ter sido e está tudo bem, desde que tenhamos essa consciência e façamos algo para mudar isso mesmo.

Mas será que poderia ter sido feito ainda melhor? Ou seja, além de eu ter sobrevivido será que poderia ser uma pessoa mais confiante, decidida e feliz?

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Em diferentes gerações existiram diferentes métodos de educação, pais que batiam, crianças a ficarem de castigo, pouca demonstração de carinho e afeto, crianças deixadas todo o dia na frente de uma televisão, etc.

Foi resultando, foi. Somos todos adultos hoje com as nossas memórias que também incluem, um passeio em família ao domingo, um dia especial com direito a um gelado, uma volta de bicicleta/triciclo.

Todos os pais fizeram o melhor que sabiam com as ferramentas que tinham, não duvido! Mas não implica que tenha sido perfeito e não implica que continuemos a perpetuar alguns dos erros geração após geração.

A parentalidade consciente é um tema fascinante (partilho convosco uma autora que adoro, Mikaela Övén) e eu acho que torna a parentalidade quase num projeto, como se criar aquele Ser fosse um projeto para o qual temos que ter um plano, ter consciência do que vamos fazer e dizer e não improvisar; um projeto para o qual fazemos todo um planeamento prévio com a obrigação de criar o melhor Ser possível, com valores humanos que tanta falta fazem no mundo.

Vamos tentar que não passe desta geração, os gritos constantes, a violência física, os abusos verbais, a manipulação da autoestima, as críticas excessivas.

“Em cada geração, só um pequeno grupo pode mudar o destino da humanidade: os adultos com crianças pequenas.” (Lar Montessori)

Vamos elogiar, incentivar, promover o espirito crítico, ensinar a tolerância e respeito, espalhar o amor, incentivar a partilha.

E isto tudo porque no supermercado uma mãe se passou com o miúdo, que devia ter cerca de 3 anos, como se toda a gritaria e o discurso dela fossem entendidos na perfeição por aquele pequeno Ser que sabe lá o que é inflação, e se pode ou não sonhar com um novo carro de bombeiros.

a moda da positividade

Tri, 20.02.23

“Aprecia as pequenas coisas do teu dia”

“Mantém o pensamento positivo”.

Não é difícil de perceber que o tema felicidade e positivismo está na moda, diversos negócios são criados em torno dessa temática, livros e filmes de autoajuda no Top de vendas das livrarias, um breve deslizar pelas redes sociais e temos imensas frases bonitas de motivação, a quantidade de autores e especialistas sobre este assunto aumenta a cada dia, tudo para nos ajudar a mudar o foco, a conseguir chegar .  

Atualmente, é-nos ensinado que os vencedores mantêm o pensamento positivo, logo, que o nosso sucesso depende da nossa capacidade de evitar ser negativo.

A verdade, é que por vezes pode ser altamente frustrante tentar manter essa positividade.

Os efeitos da positividade são comprovados e podem fazer imensamente bem ao nosso corpo e mente (eu sou adepta, atenção). O problema está em supervalorizar essa positividade como forma de colocar um véu sobre sentimentos, dos quais não queremos falar, ou sobre emoções com as quais não sabemos lidar. 

Para que exista um equilíbrio, durante a vida temos que vivenciar momentos desapontantes, tristes, desencorajadores ou frustrantes. Por vezes, sentimo-nos menos bem sem nenhuma razão aparente e está tudo certo.

E quando a vida nos manda algumas pedras, não pegamos nelas para fazer uma ponte, não, a maioria de nós ressente-se, fica triste, tem momentos de pessimismo, dúvidas e até pânico.

E será que é assim tão mau estes sentimentos e pensamentos aparecerem na nossa vida? Significa que estaremos destinados ao fracasso só porque não vemos borboletas a voar todos os dias?

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E a pressão toda que isto cria já pensaram?! Os “positivos” acreditam que as suas vidas têm que ser maravilhosas, realizadas e plenas, e que tal só se consegue pensando positivo.

E estas ideias estão a ficar tão enraizadas (por todos os workshop e livros que se promovem) que alguém que esteja a passar um período menos bom, que tenha algum tipo de problema ainda fica mais em baixo pois crê que, para além de “já estar tudo estar mal” na sua vida, a culpa ainda é dela, por não conseguir pensar positivo e atrair coisas boas. 

E atenção que eu sou defensora do pensamento positivo, acredito genuinamente que ajuda a alcançar sonhos, tal como sermos gratos diariamente pelas coisas que vamos tendo no caminho, mesmo as más que podem ser momentos de aprendizagem.

Ao longo do último ano tive dúvidas sobre mim, pus em causa os meus conhecimentos (da vida no geral), criei conflitos com a minha área de formação (julgo genuinamente que não é a minha área, apesar de ter estudado para tal, não me apaixona), ia para um trabalho que me desgastava cada dia mais e onde saía frustrada com algumas das tarefas inerentes, algumas crises com a minha irmã, com quem sou incompatível (temos formas de ver, e viver, o mundo antagónicas), tive o meu pai no hospital e duvidei do nosso propósito no mundo … e tudo me ia deitando abaixo, mais e mais, tive um esgotamento quando, na verdade, ainda tinha muitos motivos pelos quais estar grata: eu tinha saúde, tinha a minha casinha e estava a conseguir pagá-la, tinha trabalho, a família junto de mim, fazia o meu voluntariado, conseguia estar com amigos e, portanto, pondo na balança devia estar feliz e contente com a vida. Isso é um facto! Mas não estava.

E hoje perdoo-me pela forma como lidei com tudo; perdoo-me por achar que estava errada ao não estar de bem com a vida com tudo de bom que já me deu; perdoo-me por achar que era fraca, que devia conseguir dar a volta a uma dada situação, quando na verdade, eu simplesmente tinha que viver a situação, o tempo que foi preciso e sair dela mais forte.

Por isso, sim, ter uma mente positiva é algo bom, mas se tivermos um dia mau ou nos sentirmos mais pessimistas, devemos aceitar a situação, que faz parte não estar sempre tudo cor-de-rosa, ao invés de tentarmos bloqueá-la.

Assim, vamos começar a pensar duas vezes antes de darmos conselhos como “não estejas ansioso” ou “vai ficar tudo bem”, que é interpretado como “não sintas essa emoção que é errado” quando na verdade devemos senti-la, processá-la e superar e, depois sim, voltarmos a estar bem e positivos.

Uma dica preciosa que partilho, e que ponho em prática diariamente é praticar a gratidão. Tenho um caderno na mesinha cabeceira e todos dias os dias penso sobre o meu dia e algo pelo que estou grata. Hoje ouvi os passarinhos a cantar e o sol a nascer no passeio matinal com o meu cão (matinal entenda-se 6h da manhã).

É a chamada positividade mais branda, permite-nos aperceber do bom que temos na vida e ir aprendendo a ficar feliz por pequenas conquistas ao invés da euforia passageira.

Acima de tudo, há que entender que entender que o ser humano é formado por um espectro de emoções, e que quando nos permitimos sentir cada uma delas, estamos a ser, simplesmente, normais e saudáveis. Eu demorei a aprender isso, espero que vocês sejam mais rápidos.  

mas chegar atrasado é moda?

Tri, 08.06.21

E ninguém me avisou.

Não quero apontar o dedo a ninguém nem tornar isto numa questão regional, mas, todas as minhas reuniões no Sul (é que seja com quem for) começam tarde, ou tenho muito azar, ou é hábito.

(eu sei que isto é uma terra de trânsito crónico, mas já todos sabem disso, portanto convém sair mais cedo!)

De uma forma geral, cada vez mais noto uma tendência crónica de todas as pessoas para não chegarem a horas…pensei que os confinamentos e reuniões à distância de um clique tivessem melhorado isto (até porque se só precisamos fazer um clique para começar, bem que podemos chegar à hora marcada) mas parece que não.

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Quarto-escuro

Tri, 13.05.21

Vocês lembram-se? Digam-me que sim, que não fui só eu.

Estava este fim-de-semana a conversar com o meu sobrinho sobre a interação que tem com os seus amigos, o tipo de brincadeiras que fazem hoje em dia (inexistentes diga-se), constatando que o normal para ele é “estar com o pessoal” à distância.

E não, não por causa do covid. E sim porque se habituaram a falar por mensagens, a conversarem através de microfones quando estão todos a jogar um qualquer jogo on-line e quando estão efetivamente juntos não têm o à-vontade para falarem, para desabafarem, para dizerem o mesmo que escreveram na mensagem do dia anterior.

 

Isto já era algo que me preocupava mas atualmente com tanto confinamento, temo que isto vá ser um grande dilema da nossa sociedade, a incapacidade de criar relações sociais, de lidar com o outro, de cuidar…

Bem, mas não foi isso que nos trouxe aqui hoje.

 

Vocês lembram-se dos jogos de antigamente que usámos como artimanha para nos podermos aproximar daquele colega mais engraçado a quem queríamos roubar uma beijoca? (não estou nisto sozinha de certeza, não me julguem)

Havia o “bate o pé”, bem atrevidote onde podíamos fazer a ação que nos tinha calhado ou bater o pé e recusarmo-nos e o “quarto-escuro”. Mas quem é que inventou estas coisas? (pergunto-me eu hoje a sorrir perante algumas memórias) O “quarto-escuro” era um jogo às escuras, onde o objetivo era tentar encontrar alguém e identificar às apalpadelas (leram bem: às apalpadelas … mas com respeito atenção!) e quando um casalinho se encontrava aproveitava para roubar uns beijitos.

Tudo bastante inofensivo, diria eu, e algo inerente à curiosidade da idade e da descoberta dos próprios corpos e dos outros.

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E dizem vocês, “mas e lembras-te disso agora porquê?” (pareceu-me que vos ouvi perguntar)

 

Pois que acho que estes adolescentes (e pré-adolescentes) já nem desses jogos precisam de tão explícitos que são. São um contrassenso, na verdade, por um lado contidos nas palavras, não criam relações, não fazem amigos verdadeiros (daqueles com quem vão poder contar mesmo e não daqueles que só estão prontos para a festa ou para parecer bem nas fotos), não se dão a conhecer verdadeiramente com receio das represálias, do escárnio ou rebaixamento, no entanto, conseguem ser demasiado físicos. E por físicos entenda-se, andarem quase nus na rua (não deixam grande espaço para a imaginação não) e serem demasiado sexuais em plena via pública.

Moro perto de escolas e as coisas que eu já assisti…ou eu sou muito púdica e não soube acompanhar a evolução dos tempos ou isto não é de todo normal, é crescerem demasiado rápido, é nem disfrutarem de ainda serem criança e pré-adolescentes. (eles não sabem, mas depois têm o resto da vida para serem sempre adultos … criança é que não!)

 

Mas é de mim, que me custa a entender isto e acho que é demasiado ou partilham da mesma opinião? Posso ser só eu que “parei num outro tempo” e considero que há tempo para tudo na vida, temos várias fases e etapas por algum motivo, portanto cada coisa a seu tempo.

Miúdos à nossa imagem

Tri, 20.04.21

Tenho discutido muito nos últimos tempos por causa dos estudos do meu sobrinho e do meu primo (têm diferença de poucos meses). Acontece que os pais de ambos querem impor o que eles devem estudar, o que é melhor para eles ... Mas quem garante o que é melhor para dada criança? Lá porque algo foi bom para mim, ou para alguém, não significa que vai funcionar naquela criança.

Todos os seres são diferentes e têm objetivos e necessidades diferentes (mesmo que ainda não os tenham descoberto).

E atenção que eu percebo que devemos zelar e proteger as nossas crianças sempre, desejar o melhor para elas e que nunca lhes falte nada, aconselhar e encaminhar o melhor possível mas temos que aprender quando parar...

(Isto porque os tempos são outros e as coisas vão evoluindo, nós vamos evoluindo e pensamos nestas coisas, noutros tempos não seria assim...ai se a minha avó ouvisse estas ideias...)

Hoje em dia somos super protetores em relação às crianças; quem é que chega a casa todo borrado e de joelhos esfolados porque andou a brincar na rua?! Ninguém. E porque a segurança da rua também já nem permite. (já para não falar do bicho cujo-nome-estamos-fartos-de-pronunciar)

Um fator chave para o seu crescimento é a experiência, é passar pelas coisas e não esperar que lhes contem ou mostrem num vídeo; é sentirem-se queridas e não rodeadas de coisas, ou seja, dispendermos tempo para estar, brincar e ensinar ao invés de só dar. (Tenho para comigo que muitos adolescentes recorrem à violência como resposta, por falta de carinho ao longo do seu crescimento, de tempo e atenção)

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Portanto, o que as crianças necessitam é do nosso tempo para as ajudarmos a manifestar e aprimorar as virtudes que "trazem de fábrica" em vez de tentarmos moldá-las ao que achamos que devem ser.

Isto para chegar ao que respondi à minha família porque é o que acredito: eduquem, descubram aquilo em que a criança se destaca e proporcionem-lhe os recursos necessários para exprimir o seu talento. É o que de melhor podem fazer por eles.
Deixem de incutir ideias como " vai para X que tem muitas saída", " estuda Y que depois ganhas muito dinheiro". Depois seguem o vosso conselho, crescem e sentem-se frustrados. (mas atenção que não digo que esta seja uma tarefa fácil, nada disso...já aqui falei um pouco do assunto)

O esforço de hoje, amanhã irá poupar a essa criança muito tempo, esforço e dinheiro investidos em perceber o 'sentido da sua vida'. Acreditem em mim. ;)

Os filhos não nos pertencem, aliás a nossa missão em relação a eles consistem precisamente em prepará-los para que nos abandonem. (Não literalmente entenda-se mas que ganhem as suas asas)

E acho que quanto mais cedo se perceber isso, melhor a relação criada, melhor a educação que podemos dar pois analisamos as coisas "com outros olhos".  Mas como já disse noutros textos, é a minha mera opinião, eu não tenho filhos e um dia, se os tiver, posso pagar a minha língua mas tenho plena convição que, se um dia os tiver, vou estar consciente e convicta do que devo fazer, por muito dificil que seja (ou sem paciência) e basicamente encaminhá-los apenas no caminho que é o deles e que ninguém deve mudar.

 

Bem, quando isso acontecer, venho aqui fazer um update vá.  ;)

eu sei que não está fácil para ninguém

Tri, 25.02.21

Eu sei que não está fácil para ninguém, é um facto.

Eu também tenho amigos profissionais de saúde que estão no limite. Pouco ou nada tenho conseguido falar com eles nos últimos meses e quando consigo é para ouvir desabafos que me partem o coração. 

Também já tive familiares, amigos e colegas de trabalho com Covid. Sou grata por a minha família mais próxima e eu mesma estarmos todos bem de saúde. Tenho assistido de perto ao desespero crescente de famílias com sérias necessidades, as ajudas não chegam a todo o lado, as associações desdobram-se mas já não têm meios para acudir a tantos pedidos de ajuda.

Tenho também vivido de perto a realidade dos nossos idosos, tantas vezes esquecidos, tantas vezes negligenciados, a definharem por culpa de um confinamento que os enclausura até perderem as suas faculdades cognitivas, até falecerem de tristeza, de solidão…avassalador.

Estou muito envolvida com tudo isto, porque trabalho com pessoas, porque sou humana, porque sou voluntária, porque vivo em comunidade.

Não obstante esta realidade, não significa que tenha que espelhar no meu blog sempre estas temáticas porque de covid já andamos nós fartos e no meu blog eu escrevo aquilo que me apetece, num dado momento, e principalmente coisas que me aliviem a alma (e eventualmente vos ajude a aliviar a vossa).

Fica o desabafo …

Dito isto não vim falar do que se fala todos os dias, mas sim partilhar convosco uma outra visão sobre o problema: a oportunidade que temos à nossa frente para nos unirmos no meio desta derrocada. Estamos tão focados no negativismo, na separação que parece que não vemos outro caminho que não seja o da desunião, o da reclamação constante, o da culpabilização gratuita, o de destilar ódio, o da falta de tolerância e paciência.


Mas não! Pelo contrário, estamos perante uma excelente oportunidade de identificarmos e aceitarmos um outro caminho: o do diálogo, o da empatia, o da compaixão, o do espirito de comunidade, o do amor.

Não adianta nada reclamarmos, atribuirmos a culpa a 500 pessoas, destilar ódio constantemente, isolarmo-nos (para além do fisicamente exigido), humilhar o outro; nada disso vai trazer paz, nada disso vai afastar o vírus, nada disso aumenta imunidade …pelo contrário, drena ainda mais a nossa energia, gera ainda mais caos, reprime o coração.

Acredite-se ou não, a terra devolve-nos o que nós damos (com palavras mais ou menos pomposas) portanto quão menos chateados, irritados e implicativos formos, melhor.

Estamos numa altura em que não devemos olhar sobre o EU mas sobre o NÓS, para conseguirmos superar tudo isto.  Vamos aproveitar esta fase para crescer, para aprender, para evoluir e só o conseguimos plenamente, com sentido de comunidade. Aliás, diria que no primeiro confinamento muito se promoveu a interação e maior integração na comunidade, pelo simples facto de termos atenção aos nossos próprios vizinhos, por exemplo.

Nunca sociedade cada vez mais isolada, individualista e egoísta; vamos promover e aumentar o espirito de comunidade, vamos olhar para o lado e perceber a quem podemos 'estender a mão'; vamos de facto retirar algo de bom no fim de tudo isto: atitudes que podemos e devemos aplicar na nossa vida, sempre.

preciso mesmo de desabafar

Tri, 24.02.21

Eu preciso de desabafar, estas injustiças e crenças enraizadas deixam-me sempre muito transtornada.

Numa das últimas conversas pela empresa, discutia-se (como não podia deixar de ser) covid e vacinação. E tenho uma colega com a plena crença e convicção que algumas pessoas não deveriam estar a receber vacinas.

Passo a explicar, ela acha “um autêntico desperdício de recursos” estarmos a dar vacinas a idosos com mais de 90 anos. Está super indignada por vermos nas notícias que foi vacinado mais alguém com 98 anos, com 101 anos, enfim idosos bem velhinhos, ao invés de se aplicar as vacinas “ a quem realmente vai fazer uso delas porque estas pessoas, se calhar, morrem daqui a um mês ou um ano e estamos a desperdiçar uma vacina para nada”.

Como assim? Mas desde quando é que as vidas humanas são colocadas numa balança para se perceber quais valem mais?

Já é suficiente essa “balança” estar a existir por vezes na frente de batalha, quando não há condições para atender todos devidamente e os nossos médicos têm que tomar decisões dramáticas e “escolher alguém em detrimento de outrem”.

Mas como assim, somos rotulados como alguém que “já viveu de mais e não vale a pena preocupar-se”?

Eu percebo a lógica, na medida em que aquela pessoa não terá um futuro muito mais longo mas se não a respeitarmos pelo futuro que ‘pode não vir a ter’ temos que obrigatoriamente a respeitar pelo passado que já teve, pelo quanto se esforçou durante toda uma vida tão longa.

Até porque, arrisco-me a afirmar, que todos estes nossos idosos, que hoje o são, passaram por grandes dificuldades na vida, trabalharam sempre muito e durante muitos anos…no tempo deles não havia tantas facilidades ou rendimentos mínimos; no tempo deles começava-se a trabalhar aos 10 anos; foram parte importante da população ativa deste país; devemos-lhes muito.

Acima de tudo, são seres humanos! Eventualmente, família de alguém a quem fariam falta! E não é por causa de uma pandemia que as pessoas devem ser descartadas como se não tivessem qualquer valor. Isto é chocante, incomoda-me e custa-me a entender.

E com isto não consigo mudar cabeças, nem sequer consegui fazer ver à minha colega que continua a achar que tem toda a razão e que mesmo que a sua avó estivesse nessa situação, ela achava que não devia tomar vacina porque já era velhinha já não ia durar muito mais…“tomava ela a vacina no lugar da avó…”

Estas coisas mexem-me com as ‘entranhas’ … tinha que deixar o desabafo.

Ainda me sinto revoltada…mas vai passar.

A nossa vulnerabilidade

Tri, 28.01.21

É uma tarefa complicada esta de admitirmos a nossa vulnerabilidade perante os outros.

Vivemos numa sociedade que ainda valoriza muito pessoas que se posicionam como fortes e possantes o tempo todo. Como se demonstrar vulnerabilidade em alguns momentos fosse sinónimo de fraqueza.

Não há como negar que o significado de vulnerável está associado a fraqueza e suscetibilidade para ser magoado ou derrotado. No entanto, o nosso maior erro é traduzirmos literalmente isso à letra.

Então quer dizer que a pessoa vulnerável é fraca, frágil e facilmente destruída? Pelo contrário. A pessoa que tem a coragem de se demonstrar vulnerável é mais forte do que muitos que se apresentam como destemidos.

“Vulnerabilidade não é fraqueza, é coragem.”

E não sou eu que o afirmo, mas sim Brené Brown, cientista social nos Estados Unidos, que ganhou visibilidade na sua TED Talk “O Poder da Vulnerabilidade” onde afirma que é impossível conseguirmos evoluir, melhorar e atingirmos os nossos objetivos se não aceitarmos verdadeiramente quem somos, as nossas inseguranças, os nossos erros.

Ela desconstrói a noção de vulnerabilidade, esclarecendo que as pessoas que têm coragem, na verdade, são aquelas que não têm medo de se demonstrarem vulneráveis.

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E eu concordo, para estabelecermos as nossas relações, para nos ligarmos verdadeiramente ao outro, temos que nos permitir sermos vistos. Mas, vulgarmente, temos tendência a encobrir-nos para ser ‘o politicamente correto’, ou seja, para sermos aquilo que achamos melhor naquele momento ou que julgamos ser o que esperam de nós em dada situação; só nos abrimos ao outro e nos damos a conhecer depois de nos demonstrar ser de confiança. 

Temos aquela tendência para criar uma proteção, para vivermos com a sensação de que ‘não podem saber que sou assim, que gosto disto e daquilo’, pois sentimo-nos vulneráveis se virem como realmente somos e sentimo-nos expostos à vergonha.

Mas temos que nos permitir ser vistos, com as nossas forças e fraquezas, não querer mostrar perfeição. Isso é que é ser vulnerável. É afirmar os nossos sentimentos sem esperar nada em troca, é arriscar sem garantias, é investir em novos projetos que podem correr mal, é dizer todos dias ‘Gosto de ti’ a quem realmente importa e não esperar resposta de volta.

Nós tentamos controlar tudo para não nos sentirmos vulneráveis mas, de facto, a única coisa que nós controlamos em pleno somos nós próprios.

Os tempos que vivemos vieram demonstrar, à força, o quão vulneráveis somos, e, ainda assim, tentamos adaptar-nos e mostrar a força, método, organização…nada de vulnerabilidade, só se ficarmos doentes…

Então, vamos permitir sermos realmente vistos, principalmente pelos nossos, que se encontram tão perto e tão longe. Não vamos estar sempre com a nossa capa de guerreiros, a fazer-nos de fortes, a mostrar como estamos sempre bem e que tudo vai ficar bem. Temos direito a não estar sempre bem e felizes, e está tudo bem com isso!

Vamos ser gratos pelos que temos, por sermos vulneráveis, logo transparentes para quem nos rodeia, por corrermos riscos aceitando as consequências que daí podem advir.

 

mudar de emprego, abraçar novos projetos

Tri, 13.01.21

Mudar de emprego é sempre algo que nos traz um misto de sentimentos; perante o abandonar o conhecido (seja bom ou mau, nós já conhecemos e sabemos com o que contar) face à incerteza que não sabemos se vamos gostar ou não, para que abismo nos vamos mandar.

Somos seres humanos logo gostamos (diria até que precisamos) de ter rotinas, de ter alguma estabilidade (que é algo diferente para cada pessoa) e a mudança traz o receio.

Ainda assim fazemo-lo em muitas situações, e se estamos desmotivados, poucos produtivos e com mau ambiente é perfeitamente compreensível; quando estamos estáveis, bem e com uma boa equipa aí custa-me muito mais a entender.

Estamos a passar por uma dessas situações na minha empresa, um colega meu vai sair.

Ouve-se, como verdade absoluta, que nos dias de hoje já não existem empregos para a vida. Acredito nisso por força da evolução, da nossa evolução pessoal, faz-nos querer saber mais, procurar e experimentar outras coisas; logo as empresas também têm que circular os seus recursos.

Mas o que levou a este paradigma? As empresas passaram a querer ter maior rotatividade de pessoas ou as pessoas passaram a ser mais exigentes, a não se satisfazerem com qualquer coisa e, como tal, não ‘vestirem a camisola’ mas sim andar sempre à procura de melhor?

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O meu colega vai sair. É alguém que faz parte da história, trabalha connosco há mais de 15 anos, para além de um elemento técnico crucial é um excelente elemento humano na equipa.

E perguntam vocês “Mas estava cansado e andava à procura de outra coisa?”, “Não quer um emprego para a vida?”, “Já estava desmotivado?” (estavam a perguntar, não era?). A resposta a todas as questões é Não.

Não queria sair, nem andava a responder a anúncios de emprego. Ao longo do seu percurso foi evoluindo e desenvolvendo novas funções, era desde há um ano gestor de clientes, não estava estagnado. Ainda assim vai sair e eu ainda não consegui processar devidamente essa informação.

Acontece que no nosso setor não há desemprego, pelo contrário há muita falta de mão-obra técnica pois já não se formam novas pessoas nesta área há mais de 6 anos e neste momento só há 2 escolas no país a formar e sem procura. O que significa, que os técnicos do nosso setor são como “os jogadores da bola”, neste momento saltam de empresa para empresa, é ver “quem dá mais” e assim vamos, com as maiores empresas a comprarem técnicos literalmente.

Já nem importa se são muito bons e se sabem fazer alguma coisa de jeito, basta dizerem um número e eles compram-nos. Há técnicos que ganham mais milhares por mês que alguns enfermeiros meus amigos. É a tramada lei da oferta e da procura….

Dito isto, o meu colega não procurou mudar, simplesmente estava sossegado até ser assediado por um desses “grandes clubes” que lhe fizeram a cabeça e o conseguiram convencer … demorou uma semana a decidir-se deixar-nos num momento bem crítico da empresa. Para nós é uma perda impactante, para eles é só mais um número, pois se não fosse esta pessoa iriam ‘comprar’ outra a outro lado.

Dizem que o tempo dos empregos para a vida já acabou…mas e quando os temos, queremos manter? Já acabaram ou nós é que deixámos de os procurar e investir neles?

Hoje temos de estar constantemente no mercado de trabalho a procurar novas oportunidades, seja ao nível de desafios profissionais ou simplesmente pelo aumento das retribuições do trabalho. Mas se conseguirmos ter novos desafios onde estamos, se conseguimos ir sendo aumentados todos os anos, se a nossa equipa de trabalho for boa, porquê mudarmos afinal?

Afinal o que é que é relevante no nosso trabalho, a que é damos valor? Trabalhamos só porque tem que ser pois todos precisamos de dinheiro para viver ou temos um propósito maior?

Eu desejo-lhe toda a sorte, como sempre desejei, é alguém que faz parte da minha vida, já acompanhou muita coisa (afinal de contas é no trabalho que passamos grande parte da nossa vida) mas ainda me custa processar. Se já não estivesse bem e tivesse procurado melhor, eu entendia e aceitava facilmente. Agora estar bem e a integrar novos projetos, cheio de novas ideias e, de repente, ser convencido a mudar … já me custa um bocadinho.

Mas vai passar, eu sei.

Mas se souberem algumas respostas às minhas dúvidas, pode ser que ajude a esclarecer. O que vai nas nossas cabeças é sempre tão diferente de pessoa para pessoa, a forma como olhamos para uma mesma situação com uma perspetiva diferente, as nossas vivencias que nos levam a tomar certa decisões…pode ser que ajude.

“Anda meio mundo a enganar outro meio”

Tri, 01.12.20

“Anda meio mundo a enganar outro meio” é uma expressão que todos conhecemos e que, apesar de sobejamente exagerada, contém alguma verdade, já que somos frequentemente confrontados com falsas notícias, falsos medicamentos, falsas soluções, que temos tendência para aceitar como verdadeiras sem pensar duas vezes.

Fazemo-lo porque duvidar dá trabalho: é preciso compreender do que se fala, é preciso compreender os argumentos apresentados, é preciso ter argumentos para contra-argumentar, é preciso perder tempo, e claro, é preciso pensar!

Não obstante, muitas vezes o que é exposto é algo em que desejamos acreditar ou que temos tendência para aceitar como verdadeiro (regra geral, as crianças acreditam em tudo, os adultos acreditam em tudo o que vá de encontro aquilo em que já acreditam).

É um facto que eu já dou como certo na nossa sociedade, apesar de não concordar, mas este texto da fatia deixou-me a refletir sobre isso.

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Esta tendência para acreditar facilmente em tudo, esta falta de espírito crítico, torna-nos vulneráveis a vigarices e à manipulação da nossa opinião, havendo até quem classifique isso como uma forma de iliteracia.

E juntamos a isso a critica fácil e gratuita que, na maior parte das vezes, é apenas para denegrir a imagem do outro.

Atenção, eu sou tolerante à crítica e acho que ela deve existir para se refletir sobre as coisas e para estas melhorarem, no entanto, incomoda-me a falta de argumentos, o espezinhar gratuito e a banalidade com que se aponta o dedo.

Podemos, e devemos, fazer alguma coisa para resolver isso. Cada um de nós, na sua vidinha.

Vamos dar algum uso ao nosso cérebro (para além do sudoku, vá) e começar a questionar mais, a refletir mais, em última instância, a conversar mais? (não, as mensagens não contam)

E pôr em causa e tentar saber mais é válido para tudo na vida, não estamos aqui a discutir noticiais de pandemia, mas sim, toda e qualquer questão que nos atravesse o espírito.

 

Começa de forma suave a refletir sobre alguns pontos:

  • Contesta a tua Mente

Muitas das vezes, recordamo-nos dos acontecimentos que asseguram as nossas convicções e esquecemos aqueles que as contrariam. Ou agarramo-nos de tal maneira a um dado acontecimento que lhe queremos atribuir um outro significado que o mesmo não teria à partida. (característica da nossa muito bem aproveita por videntes, convenhamos)

Por exemplo, quando alguém nos liga e estamos a pensar nessa pessoa, ficamos deveras entusiasmados com tal coincidência; mas esquecemo-nos de todas as outras vezes em que pensávamos nessa pessoa e ela não ligou ou que ligou sem que tivéssemos pensado. Portanto, a nossa prega-nos realmente partidas. Não vamos viver a vida com atenção total a esses pormenores, mas se tentarmos ir tendo atenção plena em diversos momentos, já é um começo.

  • Contesta Quem Noticia

Os jornais e televisões têm muitas vezes que resumir notícias a uma frase e fazem-no prejudicando a verdade em favor do sensacionalismo.

Muitas vezes lendo ou ouvindo o resto da notícia ficamos com uma ideia completamente diferente da inicial. Como tal, nunca devemos formar uma opinião sobre um assunto baseado apenas em cabeçalhos de jornais ou rodapés de noticiários televisivos.

Não baseies a tua opinião sobre um assunto numa única fonte. 

Lê e ouve várias opiniões, vê e lê noticias e livros, sempre com espírito critico. Em muitos assuntos, não existe UMA fonte/opinião/informação que seja completamente correta.

  • Contesta Quem Vende

Somos constantemente ludibriados por anúncios a produtos que se apresentam com atributos que não têm, assediados com relações inexistentes (como a cerveja Y ‘nos trazer’ muitos e animados amigos) e confundidos com publicidade disfarçada de informação. Lembra-te da máxima “se algo parece bom demais para ser verdade, então é porque se calhar não o é”. Não existem soluções milagrosas para os problemas, a solução tem sempre que passar por nós. Por isso questiona e pondera antes de comprar qualquer produto que uma dada marca te quer impingir (mas estamos tantas vezes tão ofuscados que nem nos apercebemos que nos estão a impingir).

Estas mudanças não são de um dia para o outro, aliás deveriam começar na escola para que em adultos não tenham que refletir tanto sobre estas questões (como eu, digam lá). A educação deve promover a construção do auto-conhecimento, o espírito critico, favorecer a responsabilidade e criatividade do individuo.

Infelizmente não creio que se assista a isso no nosso sistema de ensino, por muito que os professores que se esforcem e façam ‘omeletes sem ovos’, de facto não conseguem fazer milagres. Mas bem, isso já seria tema para outra discussão, não é verdade?