Rainbow Friday
Aparentemente as Black Friday já não são apenas pretas e, muito menos, apenas só às sextas-feiras.
Como assim apresentam-nos ‘Black Friday’ a semana inteira? Ou ‘durante este mês, não perca’?
Já nos encontrávamos mergulhados num consumismo exacerbado mas, de facto, com este tipo de incentivos é mesmo para não dar tempo às pessoas de refletirem, questionarem, ponderarem….não! é para comprar, é por impulso e é já antes que esgote!
Não percebo!
Nada contra quem quer aproveitar as promoções, até porque temos vindo a ser manipulados para isso mesmo, mas convém vermos se estamos a aproveitar uma qualquer promoção ou só a ser enganados. (eu quando tenho que comprar, também prefiro comprar barato)
A Black Friday surgiu nos EUA (como não podia deixar de ser, não é?), com o intuito de fomentar as vendas após o feriado de ‘Ação de Graças’, que é muito simbólico e impactante no país, com uma iniciativa de 24h de promoções. Ficou assim a data marcada por uma enorme procura de produtos em promoção, aumentando exponencialmente as vendas. Desta forma, o fenómeno foi rapidamente adotado por vários países do Mundo, incluindo o nosso.
Mas a ideia é um dia de promoções, que podem ser mais ou menos aliciantes, mas não um mês inteiro a incentivar o consumo e a danar os orçamentos familiares.
A Black Friday, que oficialmente decorre à sexta-feira, já não é só à sexta-feira. Agora, é quando uma marca quiser.
É que nem o nome mudam, chamam ‘Black Friday’ a uma semana inteira de promoções...
Não percebo!
E não tenho que perceber, é a estratégia deles, enchem as televisões, os anúncios na rádio todo o dia, mas com uma comunicação assim tão ofensiva, em que todas as empresas me querem impingir à força ofertas, preços baixos e afins, só me dá vontade de fugir e não comprar nada. (até linhas de créditos têm descontos nesta altura?!)
Aliás, atualmente já é mais do que uma campanha é um fenómeno, um evento de proporções mundiais com impacto em todos os setores económicos que soube muito bem estudar a ‘psicologia do black friday’.
A desindividualização é o fenómeno que ocorre quando a identidade individual se perde em detrimento da identidade coletiva de um dado grupo. Ou seja, quando nos tornamos anónimos no meio da multidão e com tendência a acompanhá-la, tomando decisões e tendo atitudes que não teríamos isoladamente.
No nosso dia-a-dia (entenda-se um dia normal) dificilmente nos dirigimos para lojas e centros comerciais horas antes de as lojas abrirem, não entramos a correr, não retiramos agressivamente os produtos das prateleiras, não empurramos outras pessoas, etc. Ainda que consumistas, somos mais ponderados nas nossas decisões de compra.
Porém, num cenário atípico, envoltos no frenesim e no caos, comportamo-nos dessa maneira sem pensar verdadeiramente no que estamos a fazer. Se bem que a Black Friday em Portugal não tenha protagonizado até aqui episódios tão extremos como nos EUA, a corrida às lojas tem ganho cada vez mais adeptos.
Tal leva-nos a seguir com ‘a maré’ e a pensar: "Está toda a gente a ir comprar... Tantas pessoas não podem estar todas erradas… é porque as oportunidades são mesmo boas e também tenho de aproveitar".
E assim alimentamos o consumismo com os seus impactos mais que estudados e consequências nefastas nomeadamente ambientais e sociais.
Não digo que não se deva comprar nunca, até porque as industrias e comércio necessitam continuar a viver, mas devemos comprar de forma ponderada. Comprar apenas o que realmente precisamos e de acordo com as nossas capacidades financeiras.
O que vai tão de encontro ao conceito do minimalismo (que me farto de falar por aqui não é) e que faz tanto sentido para mim.
E para cúmulo, quando acabo de escrever este texto a minha mãe liga-me para ver ‘se quero dar um ali saltinho para ver umas promoções’.
“Não mãe, não quero, prefiro irmos ali tomar um chá, sem promoções.”