Quarto-escuro
Vocês lembram-se? Digam-me que sim, que não fui só eu.
Estava este fim-de-semana a conversar com o meu sobrinho sobre a interação que tem com os seus amigos, o tipo de brincadeiras que fazem hoje em dia (inexistentes diga-se), constatando que o normal para ele é “estar com o pessoal” à distância.
E não, não por causa do covid. E sim porque se habituaram a falar por mensagens, a conversarem através de microfones quando estão todos a jogar um qualquer jogo on-line e quando estão efetivamente juntos não têm o à-vontade para falarem, para desabafarem, para dizerem o mesmo que escreveram na mensagem do dia anterior.
Isto já era algo que me preocupava mas atualmente com tanto confinamento, temo que isto vá ser um grande dilema da nossa sociedade, a incapacidade de criar relações sociais, de lidar com o outro, de cuidar…
Bem, mas não foi isso que nos trouxe aqui hoje.
Vocês lembram-se dos jogos de antigamente que usámos como artimanha para nos podermos aproximar daquele colega mais engraçado a quem queríamos roubar uma beijoca? (não estou nisto sozinha de certeza, não me julguem)
Havia o “bate o pé”, bem atrevidote onde podíamos fazer a ação que nos tinha calhado ou bater o pé e recusarmo-nos e o “quarto-escuro”. Mas quem é que inventou estas coisas? (pergunto-me eu hoje a sorrir perante algumas memórias) O “quarto-escuro” era um jogo às escuras, onde o objetivo era tentar encontrar alguém e identificar às apalpadelas (leram bem: às apalpadelas … mas com respeito atenção!) e quando um casalinho se encontrava aproveitava para roubar uns beijitos.
Tudo bastante inofensivo, diria eu, e algo inerente à curiosidade da idade e da descoberta dos próprios corpos e dos outros.
E dizem vocês, “mas e lembras-te disso agora porquê?” (pareceu-me que vos ouvi perguntar)
Pois que acho que estes adolescentes (e pré-adolescentes) já nem desses jogos precisam de tão explícitos que são. São um contrassenso, na verdade, por um lado contidos nas palavras, não criam relações, não fazem amigos verdadeiros (daqueles com quem vão poder contar mesmo e não daqueles que só estão prontos para a festa ou para parecer bem nas fotos), não se dão a conhecer verdadeiramente com receio das represálias, do escárnio ou rebaixamento, no entanto, conseguem ser demasiado físicos. E por físicos entenda-se, andarem quase nus na rua (não deixam grande espaço para a imaginação não) e serem demasiado sexuais em plena via pública.
Moro perto de escolas e as coisas que eu já assisti…ou eu sou muito púdica e não soube acompanhar a evolução dos tempos ou isto não é de todo normal, é crescerem demasiado rápido, é nem disfrutarem de ainda serem criança e pré-adolescentes. (eles não sabem, mas depois têm o resto da vida para serem sempre adultos … criança é que não!)
Mas é de mim, que me custa a entender isto e acho que é demasiado ou partilham da mesma opinião? Posso ser só eu que “parei num outro tempo” e considero que há tempo para tudo na vida, temos várias fases e etapas por algum motivo, portanto cada coisa a seu tempo.