precisamos mesmo de tanto?
Já não é novidade para ninguém que vivemos numa sociedade capitalista onde comprar se tornou tão automático como respirar.
Um simples clique e, em poucos dias, temos um novo objeto a chegar à nossa porta, ou seja, estamos rodeados de tentações constantemente. Mas será que precisamos mesmo de tanto?
Segundo uma reportagem recente da SIC, que me chocou um pouco, apesar de todos conhecermos esta realidade acho que não temos real noção do seu impacto, ficámos a saber que todos os dias entram na União Europeia cerca de 12 milhões de encomendas digitais, em grande parte vindas da China. Muitos destes produtos, por custarem menos de 150€, não pagam taxas alfandegárias nem IVA, ou seja, são baratos, acessíveis e fáceis de adquirir.
Não obstante, escondem problemas sérios: concorrência desleal, degradação ambiental e, sobretudo, riscos para a saúde.
Porque a verdade é só uma, grande parte destes artigos não passa pelo mesmo controlo de qualidade a que os produtos europeus estão sujeitos. Há roupas com tintas tóxicas, brinquedos com materiais cancerígenos, cosméticos cheios de químicos perigosos e nós parecemos cordeirinhos que perdemos o nosso discernimento e compramos, simplesmente porque é barato, esquecendo-nos de que o barato, muitas vezes, sai caro…para a nossa saúde, para o mundo, para o futuro dos nossos filhos…
A publicidade, esse motor invisível do desejo, cria necessidades constantes que não existiam e leva-nos a comprar desenfreadamente. Quantos de nós não pesquisámos já um determinado artigo que queríamos mas descobrimos mais meia dúzia, que até são baratos, que servem para auxiliar problemas que nem sabíamos existir no mundo…
Mas nunca pára, pois mal satisfazemos um desejo, aparece logo o próximo modelo, a nova tendência, uma nova sugestão, um ciclo infinito cheio de pontos, selos e prémios que quanto mais compro mais ganho…mas ganho o quê afinal?
Então, e o que podemos nós fazer para mudar?
- Questionar antes de comprar: Preciso mesmo disto ou é só impulso?
- Desinstalar as app’s de compras do telemóvel: se não tivermos acesso rápido e imediato temos menor tendência a comprar
- Escolher qualidade em vez de quantidade: Menos coisas mas mais seguras, duradouras e com impacto positivo. Se calhar não trago “o saco cheio” e compro só os artigos que realmente precisava numa empresa portuguesa
- Dar prioridade a experiências: Um jantar, uma caminhada, um livro, uma viagem curta podem trazer muito mais bem-estar do que mais um objeto que ficará esquecido no fundo da gaveta da tralha. Cada vez que fores fazer uma compra dessas pensa se não preferias gastar esse dinheiro com o teu namorado, afilhada, filhos, etc.
- Educar as crianças para o consumo consciente: Mostrar-lhes que brincar, criar e partilhar são formas de felicidade mais ricas do que abrir um embrulho novo.
Nenhum de nós nasceu consumista, pelo contrário fomos aprendendo esse comportamento que é incentivado a toda a nossa volta. Mas temos o livre-arbítrio precisamente para podermos escolher outra forma de estar no mundo, uma forma mais equilibrada, mais consciente e mais saudável.
No final, a pergunta que fica é simples e inevitável: queremos viver para comprar ou comprar para viver melhor?
Por isso, deixo-te o desafio: da próxima vez que sentires aquele impulso de ires às compras, respira fundo e pergunta-te se precisas mesmo daquilo.
Se parares antes do clique, talvez descubras que o que procuras não cabe numa caixa de cartão…talvez seja apenas mais tempo, paz, talvez seja só um abraço ou sentires-te mais bonita. Não se pede nada de megalómano, são trocas pequenas: troca um objeto por um momento.
E são estas escolhas simples que podem mudar, de verdade, a forma como vivemos; que podem impactar o mundo porque se todos mudarmos um pouco acaba por ter um impacto gigante.
Para os mais interessados, podem ver a Grande Reportagem da SIC aqui.
