prazo validade da amizade
Vivemos tempos de individualismo, de vidas de correria onde não “temos” tempo para nos preocuparmos com terceiros, ainda que os mesmos, por vezes, sejam nossos pais e amigos.
A Mãe pede um favor “agora não posso”, o amigo liga para tomar um café, “vou tentar estar livre…”, a amiga liga para conversar “agora não dá jeito, ligo-te daqui a 5 minutos…” que passam a horas, a dias, a semanas…
Eu própria olho para as amizades que tive, as novas que tenho atualmente e as que se mantiveram ao longo do tempo e vejo esse fenómeno.
Muitas das que foram e já não o são, é por indisponibilidade, de tempo e psicológica, das pessoas para se envolverem a 100% e se comprometerem com algo, tal qual como numa relação amorosa.
Pessoalmente, sempre respeitei as amizades que tive e, por diversas vezes, coloquei as necessidades dessas pessoas amigas em primeiro lugar, acima dos meus próprios interesses.
Não reclamo esse facto, entenda-se, ainda hoje o faço por opção, adoro poder ser útil e estar lá para as pessoas.
Não obstante, deparei-me ao longo da vida que sempre dei mais do que o que recebi; e também aprendi e cresci muito com isso.
Não que esteja propositadamente à espera de moeda de troca, mas sou boa ouvinte, estou disponível dia e noite, sempre pronta a ajudar, pronta para ir para a festa ou para enxugar a lágrima que teima em escorrer e, quando é preciso, quando se está mais em baixo parece que as pessoas esquecem, não aparecem, teimam em não poder largar a sua vida para dar algo que não custa nada: o seu tempo a outro ser.
E o que assisto atualmente, principalmente nos adolescentes e adultos que me rodeiam, é que vivemos tempos em que queremos receber, mas damos pouco, muito pouco mesmo. Exigimos dos outros, a presença, os bens, a partilha da foto, o like que teima em não parecer e tantas outras banalidades, mas não despendemos tempo para estar, simplesmente estar, com os amigos.
Em tempos de vidas aceleradas, é normal que o tempo escasseie, e nem nos apercebemos que tudo passa a um ritmo acelerado e que algumas dessas amizades vão ficando pelo caminho, porque todas elas devem ser semeadas e depois regadas constantemente para florescerem.
Tal responsabilidade deve ser de ambas as partes, caso não existam e persistam as desculpas da falta de tempo, dos caminhos distintos que seguiram, das rotinas descoordenadas, dos feitios diferentes…será que essas amizades devem ser preservadas? Será que se deve lutar por elas? Ou será uma luta unilateral e que não valerá a pena?
Mas se assim for, quantas amizades valerão a pena ser conservadas, e lutarmos por elas?! Qual o critério seletivo das mesmas, para se saber se é uma amizade do tipo “que dura” ou do que “devemos deixar ir”? Será que no final de contas, as amizades têm prazo de validade?
Se todos seguirmos o caminho do “deixar ir”, então não existem amizades que durem e que sejam verdadeiras, no entanto, torna-se desgastante tentar lutar por uma relação de forma isolada, insistir atrás de alguém que não corresponde.
Será o desapego a melhor resposta?