Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

o que estamos a fazer com os nossos jovens?

Tri, 25.04.25

Há coisas que já nem deviam precisar de ser escritas em pleno século XXI, depois de tantas décadas de luta pelos meus antepassados.
Mas em Portugal, em 2025, ainda há quem precise que se desenhe o óbvio: violação é crime. Sempre. Independentemente da roupa, da hora ou do lugar.

É incrivel como é cada vez mais um tema, como se tem que discutir constantemente, como estamos a educar os nossos jovens para a objetificação da mulher e para não ouvirem o que não querem: a violência sexual é real, estrutural e diária. E o silêncio de quem tem poder — político, judicial, mediático — transforma-se em cumplicidade.

Uma jovem menor foi violada em Loures.
Sim, menor.
E o país assiste, mais uma vez, à velha dança do relativismo, da culpabilização da vítima, do “mas ela…”.
Não. Não há “mas”. Há um sistema que falha, que protege agressores e que cala vítimas.

Um jovem é assassinado por fazer o que está correto, por cuidar do próximo, por denunciar e salvar potenciais vítimas. E quais as repercurssões dessa atitude? O que muda? Quem é castigado?

Tenho assistido a estes temas com uma preocupação crescente e com uma sensação de urgência de fazer algo para mudar. Mas sinto-me impotente sobre um sistema tão enraizado.
Estamos perante uma sociedade doente, todos sabemos, mas mais do que isso insensível às dores alheias, incapaz de se colocar no lugar do outro, ainda que esse outro possa ser uma irmã… sabermos que esta violação foi filmada e divulgada já é mau, mas ter sido vista, revista e partilhada por milhares é nauseante, gritante...culmina com o facto de ninguém ter denunciado e de não ser ato isolado!

Isto tem mesmo tem de nos fazer refletir sobre que jovens estamos a educar!

Jovens estes que são também vítimas de um sistema perpetuador destes comportamentos. Jovens estes que ainda estão em formação, são altamente permeáveis, mas que seguem, desde muito cedo, "influenciadores" misóginos, machistas, que objetificam e sexualizam a mulher. Jovens estes que são e serão os agressores do futuro.

Quem cala, consente.
Quem relativiza, alimenta.
Quem se esconde atrás da neutralidade, posiciona-se do lado errado da história.

Todos os dias nos deparamos com situações de violência física, emocional e sexual, contra crianças, adolescentes e adultos. Violência que não escolhe idade nem sexo, transversal a todas as profissões e enquadramentos sócio-económicos. E, de alguma forma, a ideia de que a vítima é culpada parece persistir entre a nossa sociedade.

São culpadas porque “se puseram a jeito”. Porque não gritaram nem fugiram. Porque não disseram “não”. Ou disseram, mas não foi um “não” totalmente convincente. Porque se vestiram ou comportaram de forma provocante. Porque sorriram ou olharam de forma sedutora. Porque estavam lá naquele momento. Porque se mantiveram em silêncio. Porque gostavam do agressor. Basta de culpabilizar as vítimas!

Este não é um tema de mulheres. É um tema de humanidade.
E a humanidade exige coragem.

E se não começamos a trabalhar o tema na base, junto das gerações futuras como esperamos mudar comportamentos?

Quando temos os nossos jovens a viver a vida "aos quadrados", com olhos colados em ecrãs crendo em verdades absolutas que lhes são apresentadas, como queremos mudar? Aliás, como queremos que os nossos jovens vivam a vida, descolem do digital, se nós próprios, os adultos que devíamos dar o exemplo, já não sabemos viver a nossa vida sem pegar num telemóvel? Estou na sala de espera, faço scroll enquando não me chamam; estou a ver TV com o miúdo, vou vendo uns tik tok ao mesmo tempo; enquanto conduzo, vou enviando mais uma mensagem; acordo pela manhã e pego logo no telemóvel para saber as notícias, tudo o que possa ter acontecido durante a noite, enquanto me ausentei para dormir...o exemplo começa em nós!

Queremos salvar as crianças e jovens? Pois então comecemos pelos adultos: arranquem-lhos telemóveis das mãos. Peguem nos jovens e  olhem-nos nos olhos, conversem com eles, estejam genuinamente presentes, voltem-se para o Mundo. A vida acontece 'cá fora', fora do ecrã, onde os exemplos se dão, as memórias se criam, os valores se passam.

Sinto que esta deve ser uma luta de todos nós e me tem consumido, cada vez mais!