Destralhar a minha mãe …
Bem, não foi bem a ela, foi mais a casa dela vá (eu também não sou assim tão mazinha) ;)
Consegui uma missão impossível, começar a pôr as mãos na tralha acumulada naquela casa durante uma vida.
Convenhamos que ninguém precisa de tanta coisa para viver, acho que já devíamos todos ter aprendido isso.
A minha mãe descobriu coisas para as quais não olhava há anos (muito menos usar), portanto para quê ter? Só para ocupar espaço, acumular pó e custar mais a arrumar?
E perguntam vocês: “então conseguiram destralhar e arrumar uma divisão da casa?” (mais alto que não estou a ouvir …) Não senhora! Conseguimos destralhar umas gavetas e já foi muito.
Há todo um desapego emocional que tem que ser trabalhado primeiro. As coisas só têm o significado que lhe queremos atribuir e nada mais.
As memórias que ficam são dos momentos que passámos com as pessoas, o que vivemos juntos, o que conversamos, as aventuras e problemas que ultrapassámos; as memórias não são os objetos que guardamos.
Podemos não ter essa consciência mas o apego às coisas, pessoas e ao passado é um dos maiores entraves das nossas vidas.
Mas eu percebo a ligação e entendo que não se muda o ‘chip’ num dia, todos temos o nosso processo. Eu também tive o meu e, por exemplo, destralhei mais de 6 vezes a mesma gaveta, de cada vez conseguia deitar fora sempre algo mais, libertar aquelas energias. Mas passaram meses entre esses momentos…todos temos o nosso tempo.
Praticar o desapego não significa abrir mão de tudo o que é importante para nós, romper vínculos afetivos ou relacionamentos com aqueles que fazem parte da nossa vida. É simplesmente encontrar o equilíbrio saudável entre desfrutar dos relacionamentos sem atribuir significados a bens materiais que nos prendem.
Ainda assim o nosso destralhanço correu bem (convenhamos que foi mais produtivo porque fui deitando algumas coisas fora sem ela ver) mas ainda há muito caminho pela frente, muita coisa para organizar, separar e encaminhar para uma nova vida.
Eu gosto de destralhar, gosto da sensação de organização, de começar a ver as coisas a ganhar forma. Para cheia já basta a minha cabeça às vezes, não preciso que os espaços à minha volta sejam iguais.
Aproveitem mais ‘uma fornada’ de confinamento, para também organizarem o vosso espaço, onde passam tanto tempo, vão ver que até as ideias se arrumam melhor. ;)