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Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

Estou só a dizer coisas ...

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sermos pais dos nossos pais

Tri, 27.03.18

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As linhas delineadas nos rostos dos nossos pais, não são meras rugas, são marcas das lutas diárias, da vida a acontecer, das noites mal dormidas e sonos perdidos por nós.

 

 Os nossos pais não serão jovens para sempre, um dia, vão envelhecer. 

E creio que deverá ser uma honra se tivermos a oportunidade de presenciar esta fase da vida deles, pois teremos a oportunidade de retribuir todo o cuidado e dedicação que tiveram connosco, enquanto nos formaram pessoas.

Certamente, fizeram o melhor que souberam e que puderam de acordo com o que a vida lhes proporcionou.

 

Categoricamente, não creio que seja uma fase fácil também, teremos que estar melhor preparados para quando esta fase chegar. A velhice vai torná-los carentes, necessitados de atenção e de ouvidos pacientes que oiçam as suas mágoas e lembranças.

 

Mas essas lembranças, onde constaremos pela certa, farão com que se sintam vivos e por isso é tão importante que não as percam.

 

Ainda assim, terão retrocessos físicos (ainda que não muito graves, mas os inerentes ao avançar da idade), o corpo franzino precisará do nosso apoio para se mover, tal como fizeram connosco quando nos ensinaram um dia a andar.

A cabeça começará a ficar confusa e a contar as mesmas histórias, vezes e vezes sem conta, com o entusiamo de como se fosse a primeira vez.  

As inseguranças de infância (das quais já nem nos lembramos) têm tendência a repetir-se na velhice…sempre ouvimos dizer “que na velhice voltamos a ser crianças” e não foge muito à realidade; daí a necessidade premente de cuidados e atenção; da troca de papéis.

 

Não obstante, acredito plenamente que não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais; é um processo de adaptação e aprendizagem.

 

Quer dizer, velho é um conceito relativo (sempre o é); para mim os meus pais não são velhos, estão simplesmente a envelhecer, no entanto, aos olhos do meu sobrinho eles são velhos, aos olhos dos amigos deles são perfeitamente normais, aos olhos dos meus avós seriam ainda uns jovens. É sempre relativo …

 

A maior dificuldade reside em conciliarmos o nosso espirito de filhos adultos com o progressivo envelhecimento deles; largarmos os ideais de criança de que os nossos pais são heróis, que são invencíveis e que estarão cá para sempre.

E assim, nada é mais justo do que estarmos ao lado deles quando precisarem, tanto ao longo da sua vida adulta como na velhice.

Ainda que, por vezes, a paciência nos possa trair e o aborrecimento surja, não é contra eles…é contra o tempo, o mesmo tempo que nos ensina, educa, cura e faz crescer e que os está a levar de nós.

Devemos tratá-los com carinho, respeito, oferecer-lhes colo (tal como fizeram connosco), em forma de companhia, de cuidado, de atenção, de sorrisos, de uma mão estendia e braços abertos.

 

É dar-lhes mais paciência e menos exasperação. Menos desassossego e mais apoio. Mais companheirismo e menos acusações. Mais afeto e menos cobranças.

Eles estão apenas a envelhecer; tal como todos nós, a cada dia que passa.

seremos mesmo o espelho dos nossos pais?

Tri, 04.09.17

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Dizem-nos durante toda uma vida “é a cara chapada da mãe.”, “Ai que feitiozinho, sai mesmo ao pai”, “tal pai, tal filho”, e será que somos mesmo assim tão iguais?

Será que os nossos feitios e personalidade são ditados pelos nossos pais e respetivos feitios? Será que não desenvolvemos a nossa própria personalidade ao longo da vida á medida que vamos crescendo? Será que somos assim tão iguais?

E a resposta é sim, eu creio que sim!

 

Eu vejo por tantos casos que me são próximos, amigos e família, como os pequenos absorvem tudo que nem esponjas.

Assisto ao crescimento de algumas crianças pensando ‘que orgulho, que esperta e inteligente ela está a ficar’ refletindo que os exemplos daqueles pais são de facto positivos, as regras que lhe são impostas fazem todo o sentido, as atividades culturais que partilham com a criança são muito benéficas e, dessa forma, creio que estão a fazer um bom trabalho.

 

No entanto, vejo outros em que penso ‘ai no que ele se está a tornar’ e, de facto, é mesmo isso com pais com uma índole um tanto ao quanto duvidosa, amargos e insurretos, as crianças repetem os seus hábitos, educação (ou falta dela) e as tendências que as envolvem.

Assim, a criança torna-se pouco simpática, social e até autónoma nas funções básicas da vida, mas de facto a culpa não é da criança, mas sim da sua envolvente, mas sim dos exemplos (ou não) que lhe são passados.

 

A criança é totalmente condicionada e influenciada pelo seu meio ambiente, pelos exemplos dos pais, as conversas que os mesmos têm, os hábitos do dia-dia, são determinantes para o desenvolvimento da criança.

 

Todos temos a consciência de que viemos ao mundo fruto da união entre duas pessoas (com mais ou menos amor, não está em causa), e das quais herdamos geneticamente características que nos distinguem a cada um de nós de forma particular. Muitas destas características revelam aquilo que nós somos como pessoas, embora não totalmente, pois há coisas que o meio social nos transmite quase sem nos apercebermos.

 

Assim percebe-se a importância de sermos pais, criadores, educadores; é de facto relevante, (não propriamente pais biológicos…às vezes bem longe disso…) não só porque somos responsáveis por aquele pequeno ser que sem nós não é autónomo e não sobrevive, como também, somos responsáveis pelas pessoas que colocamos no mundo, somos responsáveis por criar aquele ser da melhor forma possível, passar-lhe a melhor educação e valores porque ele será o adulto que ficará neste mundo e o mundo já está suficientemente cheio de pessoas amargas, ruins e maldosas.

 

Pais deste mundo, vamos torná-lo num lugar melhor?!

ler é o melhor remédio

Tri, 27.07.17

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- Com dor de dentes? Lê que esqueces-te logo da dor

- Tristeza depressiva? Lê uma comédia, muda-te logo o estado de espirito

- Com borboletas e corações a voarem á tua volta? Lê e reforça o teu estado apaixonado

- Rabugento? Lê e o teu humor irá mudar

 

Portanto, acredito que de facto ler é um ótimo remédio (OK! Ainda não cura doenças, é verdade, mas faz tão bem à alma!) e seja qual for o nosso estado de espirito a leitura vai acompanhar, vai melhorar (se escolhermos o tema apropriado claramente). O hábito de ler permite encontrar prazer, aconchego e até amizade nas palavras do escritor.

 

Quando escrevi aqui sobre a minha falta de tempo, ou melhor sobre a falta de tempo para mim, para estar, para me orientar, dediquei depois algum tempo a ler alguns blogs e descobri a Rita e que bem me fez.

Deixo-vos aqui o blog dela com o qual me identifiquei totalmente, com o qual concordo e que me abriu alguns horizontes.

Ler o blog dela não me curou o ‘dilema’, no entanto, permitiu-me começar a arrumar a cabeça (sim, de facto li quase de ponta a ponta como se de um romance se tratasse) permitiu-me começar a pensar e refletir sobre outras questões que me fazem todo o sentido e que, certamente, me vão ajudar a organizar melhor, a definir melhor as minhas prioridades e pôr-me a mim em primeiro às vezes (huuumm, ainda estou reticente com tal…mas prometo tentar, pelo menos uma vez).

 

E, acredito profundamente, que ler é mesmo um dos melhores remédios, pode não curar doenças graves, mas ajuda a manter a sanidade mental, ajuda a desenvolver a imaginação, ajuda a promover o sonho, e mesmo em doenças graves que grande diferença faz esta promoção da estabilidade mental.

os sem abrigo ...

Tri, 15.05.17

Olhamos para eles e sentimo-nos incomodados.

Incomodados e impotentes. Inúteis até, perante a inércia de todo um sistema que não vê, ou não quer ver, porque não interessa.  homeless.jpg

 

Podemos aliviar a consciência dando uma moeda, ou até mesmo comida e uma roupa quente. Ficamos temporariamente tranquilos, mas não curados; algo continua a massacrar o nosso subconsciente, algo continua a moer e a vontade de mudar tudo continua a crescer.

 

A culpa não é nossa, individualmente; se calhar nem deles, individualmente.

A culpa é da vida que os coloca nesta situação e depois de um sistema que não tem como dar apoio, nem interesse em tal, e que não promove a reintegração destas pessoas que ‘caíram’ na rua.

 

Ninguém é sem abrigo porque quer. E desenganem-se os que pensam que sim. As pessoas habituam-se, acomodam-se, não significa que o queiram ser.

 

Todos os sem abrigo têm esperança, têm sonhos, ainda que acreditem, que não passam disso mesmo...sonhos…mas todos querem no fundo uma vida digna, como qualquer ser humano, longe da rua.

 

É bom que nos sintamos incomodados e será ainda melhor se fizermos alguma coisa. Alguma coisa com significado, alguma coisa que os alivie, que os ajude e, se não o podermos fazer, pelo menos um sorriso e uma palavra de simpatia não têm preço e valem muito.

 

Tentarmos minimizar a sua degradação física, mental, psicológica, pode depender também de nós … e se podermos fazer alguma coisa, façamos.

 

E alguma coisa que evite também o aparecimento de outros tantos como eles…eventualmente nós próprios!

ser mais profundo

Tri, 27.04.17

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Há um défice de pensamento crítico na nossa sociedade atual. Défice este que pode trazer por vezes, algumas consequências negativas e mal-estar na vida porque transmite uma certa ideia de preenchimento e autossuficiência que, no enanto, é vazia.

As pessoas ajuízam muito, mas sem refletir, dão opiniões! E por vezes opiniões baseadas em opiniões e críticas alheias, não param para refletir e induzir da sua própria cabeça.

 

Creio que a vida é vivida muito superficialmente, não é sentida, não é interiorizada; é vivida na emoção, no emotivismo do momento deixando a inquietação e o vazio interior.

 

As pessoas sentem essa inquietação porque não encontram espaços para a reflexão, espaços na correria da vida para trabalharem o seu interior, para se conhecer, para pararem, para refletirem, no entanto, acreditam que sim que refletem e que têm espaços. Isto porque o mundo oferece muitas fugas enganadoras que as pessoas aproveitam sem tirar usufruto das mesmas: spas maravilhosos, férias aqui e acolá, uma agenda cultural muito preenchida, toda uma super ocupação que é de facto enganadora.

E dessa forma as pessoas cansam-se rapidamente do trabalho, dos amigos, da família, da vida social, das férias paradisíacas ou das idas aos spa’s maravilhosos, porque simplesmente falta algo mais.

 

O problema de fundo é exatamente viver a vida com um sentido, ter metas e perspetivas de realização, é sentir e refletir e não andar a fugir dos problemas. São necessários momentos de contemplação, de tudo o que nos rodeia e que na verdade é o que necessitamos para sermos felizes.

 

São necessários momentos de encontro connosco próprios, não no sentido de fuga ou refúgio, mas sim para um encontro consigo e com a realidade tal qual ela é, e onde seja possível pensar, pensar a vida, pensar criticamente, refletir olhando a realidade.

Se nos ficarmos pela superfície, deixamos passar a vida, não temos profundidade e o amar e ser amados, fulcral para nossa vida, pode-se esvair rapidamente.

quando há sol, não é para todos

Tri, 17.02.17

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Ontem tive o privilégio de ter um momento de partilha com um voluntário dos Médicos sem Fronteiras (MSF). Ele abriu um pouco do seu coração e das suas experiências, numa partilha pura e comovente e desprovida de preconceitos e clichés.

 

Teve a oportunidade de partilhar um momento que viveu na sua última missão, na Síria, em pleno coração de conflitos onde após vários dias negros, de desgraça, morte, chuva e tristeza um dia brilhante desponta, com o sol a sorrir bem alto para todos os eles. Na sua ingenuidade apreciou esse momento, contemplou aquele sol brilhante, disfrutou um pouco da sua luz e calor e na “tenda” médica comentou com os locais:

 

- “Que belo dia de sol está hoje!”

- “ Não Doutor. Hoje está um dia péssimo! Está sol, o céu está limpo por isso eles vão voar … “

 

E essa cruel constatação rapidamente se tornou verdade, dentro de pouco tempo o local começou a ser sobrevoado, começaram a ser atacados pelos radicais, mais mortes continuaram a acontecer, mais feridos continuaram a encher a “tenda” médica em busca de auxílio dos MSF.

 

Desta forma se percebe que, de facto, “quando há sol, não é para todos”; algo sobre o qual nunca eu tinha refletido. É violenta esta constatação, cruel pensar que enquanto seguimos com a nossa vida muito mais bem-dispostos porque está um belo dia de sol, com outra alegria talvez e até com mais motivação para trabalhar, do outro lado do mundo muitos milhares morrem porque esse mesmo sol nasceu tornando-os mais vulneráveis.

Para alguns, um belo dia de sol significa temer pela própria vida, viver sobressaltado sempre á espera do inimigo, viver a controlar os céus ou a esquina á espera da próxima atrocidade e sentirem-se constantemente impotentes perante o radicalismo e ganância que os rodeiam.

 

Foi um momento gratificante esta partilha e quando achamos que fazemos alguma coisa em prol da humanidade, que marcamos a diferença nas ações de voluntariado que fazemos, quando achamos que estamos a fazer o que nos é possível, eis que vem uma pessoa como ele demonstrar que de facto o céu é o limite, que o coração pode ser infinitamente grande, que o mundo não tem fronteiras porque toda gente, de qualquer cultura, religião ou crença, no fundo quer que alguém lhe estique a mão e tenha uma palavra de apreço.