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As linhas delineadas nos rostos dos nossos pais, não são meras rugas, são marcas das lutas diárias, da vida a acontecer, das noites mal dormidas e sonos perdidos por nós.
Os nossos pais não serão jovens para sempre, um dia, vão envelhecer.
E creio que deverá ser uma honra se tivermos a oportunidade de presenciar esta fase da vida deles, pois teremos a oportunidade de retribuir todo o cuidado e dedicação que tiveram connosco, enquanto nos formaram pessoas.
Certamente, fizeram o melhor que souberam e que puderam de acordo com o que a vida lhes proporcionou.
Categoricamente, não creio que seja uma fase fácil também, teremos que estar melhor preparados para quando esta fase chegar. A velhice vai torná-los carentes, necessitados de atenção e de ouvidos pacientes que oiçam as suas mágoas e lembranças.
Mas essas lembranças, onde constaremos pela certa, farão com que se sintam vivos e por isso é tão importante que não as percam.
Ainda assim, terão retrocessos físicos (ainda que não muito graves, mas os inerentes ao avançar da idade), o corpo franzino precisará do nosso apoio para se mover, tal como fizeram connosco quando nos ensinaram um dia a andar.
A cabeça começará a ficar confusa e a contar as mesmas histórias, vezes e vezes sem conta, com o entusiamo de como se fosse a primeira vez.
As inseguranças de infância (das quais já nem nos lembramos) têm tendência a repetir-se na velhice…sempre ouvimos dizer “que na velhice voltamos a ser crianças” e não foge muito à realidade; daí a necessidade premente de cuidados e atenção; da troca de papéis.
Não obstante, acredito plenamente que não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais; é um processo de adaptação e aprendizagem.
Quer dizer, velho é um conceito relativo (sempre o é); para mim os meus pais não são velhos, estão simplesmente a envelhecer, no entanto, aos olhos do meu sobrinho eles são velhos, aos olhos dos amigos deles são perfeitamente normais, aos olhos dos meus avós seriam ainda uns jovens. É sempre relativo …
A maior dificuldade reside em conciliarmos o nosso espirito de filhos adultos com o progressivo envelhecimento deles; largarmos os ideais de criança de que os nossos pais são heróis, que são invencíveis e que estarão cá para sempre.
E assim, nada é mais justo do que estarmos ao lado deles quando precisarem, tanto ao longo da sua vida adulta como na velhice.
Ainda que, por vezes, a paciência nos possa trair e o aborrecimento surja, não é contra eles…é contra o tempo, o mesmo tempo que nos ensina, educa, cura e faz crescer e que os está a levar de nós.
Devemos tratá-los com carinho, respeito, oferecer-lhes colo (tal como fizeram connosco), em forma de companhia, de cuidado, de atenção, de sorrisos, de uma mão estendia e braços abertos.
É dar-lhes mais paciência e menos exasperação. Menos desassossego e mais apoio. Mais companheirismo e menos acusações. Mais afeto e menos cobranças.
Eles estão apenas a envelhecer; tal como todos nós, a cada dia que passa.
É o trabalho, os estudos, os meninos para ir levar e buscar à escola, é o levar ao ballet e ao Karaté, é o ginásio, é um vai p’ra lá e vem p’ra cá’, inúmeras tarefas, correria diária …
pára, pausa, respira rápido …
mais trabalho, mais estudos, mais afazeres, mais correria.
E assim é o dia-a-dia de muitos de nós (até mais preenchidos vá). O século XXI trouxe-nos uma melhoria da qualidade de vida, mas de facto esta evolução dos tempos trouxe tantas coisas boas como outras tantas menos boas.
O ritmo de vida contemporâneo é absurdamente rápido.
É tudo pautado em minutos, segundos. A geração de hoje (que somos todos nós que vivenciamos estas alterações) tem que lidar com várias tarefas ao mesmo tempo, de forma rápida e, ainda assim, falta tempo.
Falta-nos sempre tempo …
E é o que me tem acontecido … faltar tempo, até para escrever … cada vez sinto mais que o tempo é efetivamente o luxo dos nossos dias, como já aqui disse, é um bem precioso que temos que saber gerir para o maximizar.
Cobramos um tempo que (se calhar) não sabemos gerir da melhor forma e aproveitar ao máximo, pois quando “temos” tempo, não usufruímos como deveríamos e permanecemos no ciclo vicioso da falta de tempo.
Procrastinamos o máximo que podemos “Eu depois eu faço isso…”, “Quando tiver tempo resolvo isso… ” e assim vamos dando “desculpas” sucessivas para aquilo que não queremos fazer ou que não conseguimos gerir da melhor forma.
Esta é (tem mesmo que ser!) a minha missão este ano: arranjar tempo (ou gerir e aproveitar o meu tempo melhor, vá).
Ter tempo para simplesmente estar; para pôr a leitura em dia; para escrever; para abraçar e estar com quem nos é querido; para simplesmente não fazer nada (se for isso que apetece) ou ir de facto ao ginásio (se for isso que apetece).
Claro que temos responsabilidades e rotinas que temos que seguir, mas se forem bem geridas conseguimos fazê-las da melhor forma, ficamos mais satisfeitos e motivados e acaba por “sobrar” tempo para o que quisermos.
Porque no final, é mesmo isso que importa: em que é que investimos o nosso tempo, o que é que cultivámos enquanto por aqui passamos.
E dito isto vou tentar voltar ao ativo por aqui no blog =)
"O Crisóstomo explicava que o amor era uma atitude. Uma predisposição natural para se ser a favor de outrem. É isso o amor. Uma predisposição natural para se favorecer alguém. Ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa."
Valter Hugo Mãe
in "O filho de mil homens"
"A ficção salva-nos. Literalmente. Por imaginarmos, conseguimos saber o que fazer, conseguimos ter as ferramentas ou opções necessárias ao ato. Os animais nascem com a verdade, com uma sólida realidade que lhes deixa um reduzido espectro de aprendizagem: nós nascemos com menos verdade, com menos realidade, mas com possibilidades, com armas imponderáveis da ficção: criamos."
Afonso Cruz
in "Vamos comprar um poeta?"
"Ser o que se pode é a felicidade. Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar ao impossível. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser "
Valter Hugo Mão
in "O filho de mil homens"
"The only person you can change is yourself. When you lead by example, often the people closest to you will follow suit."
The Minimalists
in "minimalism"