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Estou só a dizer coisas ...

um espaço para a reflexão e partilha ...

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reflexão #11

Tri, 31.05.17

"Imperdoável deixa fora de si a responsabilidade, enquanto não perdoar coloca a responsabilidade em quem não quer perdoar.(...) É a diferença entre assumir a responsabilidade pelo que se faz ou culpar o outro."

 

Irvin D. Yalom

in "A cura de Schopenhauer"

prazo validade da amizade

Tri, 29.05.17

Vivemos tempos de individualismo, de vidas de correria onde não “temos” tempo para nos preocuparmos com terceiros, ainda que os mesmos, por vezes, sejam nossos pais e amigos.

A Mãe pede um favor “agora não posso”, o amigo liga para tomar um café, “vou tentar estar livre…”, a amiga liga para conversar “agora não dá jeito, ligo-te daqui a 5 minutos…” que passam a horas, a dias, a semanas…

 

Eu própria olho para as amizades que tive, as novas que tenho atualmente e as que se mantiveram ao longo do tempo e vejo esse fenómeno.

Muitas das que foram e já não o são, é por indisponibilidade, de tempo e psicológica, das pessoas para se envolverem a 100% e se comprometerem com algo, tal qual como numa relação amorosa.

 

Pessoalmente, sempre respeitei as amizades que tive e, por diversas vezes, coloquei as necessidades dessas pessoas amigas em primeiro lugar, acima dos meus próprios interesses.

Não reclamo esse facto, entenda-se, ainda hoje o faço por opção, adoro poder ser útil e estar lá para as pessoas.

Não obstante, deparei-me ao longo da vida que sempre dei mais do que o que recebi; e também aprendi e cresci muito com isso.

Não que esteja propositadamente à espera de moeda de troca, mas sou boa ouvinte, estou disponível dia e noite, sempre pronta a ajudar, pronta para ir para a festa ou para enxugar a lágrima que teima em escorrer e, quando é preciso, quando se está mais em baixo parece que as pessoas esquecem, não aparecem, teimam em não poder largar a sua vida para dar algo que não custa nada: o seu tempo a outro ser.   

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 E o que assisto atualmente, principalmente nos adolescentes e adultos que me rodeiam, é que vivemos tempos em que queremos receber, mas damos pouco, muito pouco mesmo. Exigimos dos outros, a presença, os bens, a partilha da foto, o like que teima em não parecer e tantas outras banalidades, mas não despendemos tempo para estar, simplesmente estar, com os amigos.

 

Em tempos de vidas aceleradas, é normal que o tempo escasseie, e nem nos apercebemos que tudo passa a um ritmo acelerado e que algumas dessas amizades vão ficando pelo caminho, porque todas elas devem ser semeadas e depois regadas constantemente para florescerem.

 

Tal responsabilidade deve ser de ambas as partes, caso não existam e persistam as desculpas da falta de tempo, dos caminhos distintos que seguiram, das rotinas descoordenadas, dos feitios diferentes…será que essas amizades devem ser preservadas? Será que se deve lutar por elas? Ou será uma luta unilateral e que não valerá a pena?

 

Mas se assim for, quantas amizades valerão a pena ser conservadas, e lutarmos por elas?! Qual o critério seletivo das mesmas, para se saber se é uma amizade do tipo “que dura” ou do que “devemos deixar ir”? Será que no final de contas, as amizades têm prazo de validade?

 

Se todos seguirmos o caminho do “deixar ir”, então não existem amizades que durem e que sejam verdadeiras, no entanto, torna-se desgastante tentar lutar por uma relação de forma isolada, insistir atrás de alguém que não corresponde.

Será o desapego a melhor resposta?

a minha Dª Antónia

Tri, 26.05.17

A minha Dª Antónia tinha 96 anos, uma vida preenchida, apesar da solidão interior que tendia em manchar os seus dias, tinha amigas e visitas.

Foi uma Mulher grande, lutadora, trabalhadora, criou uma filha sozinha e teve a coragem de se divorciar quando tal era recriminado por toda uma sociedade, pela própria família…

 

A sua filha teimava em ligar, todos os dias às 20h00, não tentava distraí-la apenas arranjar algum novo pretexto para ralhar com ela…seria o seu jeito de demonstrar o carinho e preocupação que tinha obviamente para com a mãe.

 

A minha Dª Antónia era uma mulher de sabedoria, com muitas histórias para partilhar e sempre de bom humor e pronta a receber-nos com um sorriso no rosto. Trabalhou arduamente até aos 84 anos, sempre senhora de uma cabeça muito equilibrada, conseguia dar rumo de toda a cidade, e contar-nos o “antes e depois” de todas as ruas; que agora “já não são nada como naquele tempo e estão sempre cheias de pessoas”.  

 

A minha Dª Antónia não era minha, mas é como se fosse...aquele abraço apertado, aquele beijinho com um sorriso, todas as histórias partilhadas, todas as gargalhadas dadas juntas faz com que seja um bocadinho minha.

 

A minha Dª Antónia vivia na casa onde nasceu, onde viveu toda uma vida e onde viu partir todos os seus entes queridos. Não queria sair dali, por mais que a filha insistisse, por mais que as meninas da Santa Casa falassem em lar; não queria sair da sua casa que o seu pai alugou com tanto custo 100 anos antes.

 

Não ouvia de um ouvido, mas insistia em querer saber como ia o mundo, e nós contávamos-lhe (gritávamos até ...) apesar de os dias de hoje “serem muito diferentes; já nem as meninas novas se casam”. Deixou de ver TV, mesmo no volume máximo, dizia que era mais fácil os vizinhos que passavam na rua ouvirem o ‘Goucha’ do que ela própria.

 

Agora a minha Dª Antónia já não está, não está aquele abraço pronto mal se abria a porta de casa, aquele beijinho repenicado, aquele ‘juízo Dª Antónia, nada de ir namorar quando sairmos’, aquela gargalhada com vontade, já não espera por nós…

 

reflexão #10

Tri, 23.05.17

"..dito satírico de Woody Allen: «Não tenho medo da morte, só não quero estar por perto quando acontecer.» Epicuro diz-nos que de facto não estaremos lá, que não saberemos o que aconteceu, porque a morte e o «eu» não podem coexistir. Porque estamos, não sabemos que estamos mortos, e, nesse caso, de que temos receio?"

 

Irvin D. Yalom

in "De olhos fixos no sol"

o grito da rua

Tri, 18.05.17

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 No seguimento do meu último post os sem abrigo, gostaria de partilhar convosco a luta de Daniel Horta Nova, uma pessoa encantadora que tenho privilégio de conhecer.

O Daniel é um grande jornalista, que trabalhou em grandes jornais como O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias e Público, a quem a vida trocou as voltas. A vida, ou as pessoas que o rodeavam.

https://pt-pt.facebook.com/daniel.hortanova.96

 

Após ser vigarizado pelo sócio, que lhe tirou tudo o que era possível, a empresa, a paz de alma, a dignidade, caiu num abismo interior que o levou para as ruas. Foi sem abrigo durante 5 anos pelas ruas do Porto, onde diz ter, simultaneamente, feito amizades verdadeiras e assistido a momentos cruéis, e assistiu de perto a esta realidade atroz.

Cansado desta realidade humilhante e insignificante para milhares de portugueses, decidiu partir para a luta e levar a causa dos sem-abrigo mais longe: lutar pelos seus direitos, pela dignidade humana, pela reinserção numa sociedade que se diz democrática e justa.

 

O Daniel, tal como eu própria, acredita que muitas IPSS existem não para de facto exercerem a sua função mas simplesmente para receberem apoios do estado que não são investidos em nada, simplesmente na própria associação (ou em quem faz parte dela). Claramente que não podemos generalizar e que existem muitas que são relevantes e de facto dão apoio a diferentes públicos-alvo, no entanto, existir controlo e fiscalização sobre as IPSS existentes seria deverás relevante para a credibilização das associações e sua atividade.

 

Dessa forma, permitia também existir esperança e permitia aos sem abrigo acreditar ainda que é possível a ajuda e que é possível o acompanhamento e reinserção, tal não acontece nos dias de hoje.

 

Daniel percorreu todo o país de bicicleta, durante dois meses e mais de 2000 Km, para conhecer a realidade de todos os distritos e para divulgar a esta causa, tão sua e de todos nós. Viagem esta que finalizou na Assembleia da República com a entrega de um abaixo-assinado com propostas para “sarar de vez uma ferida profunda na nossa sociedade”.

 

Convido-vos a conhecer esta reportagem da TVI com Daniel Horta Nova, que não desiste da sua luta muito nobre e que deve ser apoiada por todos. http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/13-04-2017/reporter-tvi-o-grito-da-rua

 

Recomendo também o seu livro, que para além de ser uma partilha da alma, é também uma ajuda para quem, como ele, conseguiu “pelo seu próprio pulso” sair da rua: “Farrapos de Alma”.

as desigualdades

Tri, 17.05.17

O Observatório das Desigualdades francês desenvolveu uma experiência social com um grupo de crianças a jogar Monopólio mas com uma série de novas regras, injustas e díspares, como as que todos nós nos deparamos na vida real.

 

O objectivo primordial é o de fazer o paralelismo com a vida real, realçando alguns grupos que são inatamente privilegiados sem nenhuma questão meritocrática associada tendo por base características consideradas mais positivas ou aceitáveis de acordo com as normas vigentes, de forma a que mais facilmente possam alcançar a vitória no jogo. 

 

Existem regras como: as raparigas apenas ganharem 150 euros por cada passagem na casa de partida ao invés dos 200 euros que ganham os rapazes (de forma a reforçar as disparidades salariais tendo por base as questões de género dos colaboradores), o acesso à compra das estações estar vedado à criança deficiente motora que integra o grupo (para chamar a atenção para que, em França, apenas 30% das estações de comboio se encontram acessíveis a pessoas de mobilidade reduzida), entre outras regras que despoletam sentimentos de frustração, injustiça e raiva, vale tudo para se mostrar as regras formais ou informais por que se regem as sociedades contemporâneas. 
 
Para reflectir.
 

 

os sem abrigo ...

Tri, 15.05.17

Olhamos para eles e sentimo-nos incomodados.

Incomodados e impotentes. Inúteis até, perante a inércia de todo um sistema que não vê, ou não quer ver, porque não interessa.  homeless.jpg

 

Podemos aliviar a consciência dando uma moeda, ou até mesmo comida e uma roupa quente. Ficamos temporariamente tranquilos, mas não curados; algo continua a massacrar o nosso subconsciente, algo continua a moer e a vontade de mudar tudo continua a crescer.

 

A culpa não é nossa, individualmente; se calhar nem deles, individualmente.

A culpa é da vida que os coloca nesta situação e depois de um sistema que não tem como dar apoio, nem interesse em tal, e que não promove a reintegração destas pessoas que ‘caíram’ na rua.

 

Ninguém é sem abrigo porque quer. E desenganem-se os que pensam que sim. As pessoas habituam-se, acomodam-se, não significa que o queiram ser.

 

Todos os sem abrigo têm esperança, têm sonhos, ainda que acreditem, que não passam disso mesmo...sonhos…mas todos querem no fundo uma vida digna, como qualquer ser humano, longe da rua.

 

É bom que nos sintamos incomodados e será ainda melhor se fizermos alguma coisa. Alguma coisa com significado, alguma coisa que os alivie, que os ajude e, se não o podermos fazer, pelo menos um sorriso e uma palavra de simpatia não têm preço e valem muito.

 

Tentarmos minimizar a sua degradação física, mental, psicológica, pode depender também de nós … e se podermos fazer alguma coisa, façamos.

 

E alguma coisa que evite também o aparecimento de outros tantos como eles…eventualmente nós próprios!

sentimentos

Tri, 10.05.17

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Às vezes páro para pensar e apercebo-me no quanto eu sou feita de expectativas muitas vezes não alcançadas, de sentimentos não sentidos e de palavras não ditas.

Quando somos jovens não sabemos ao certo como filtrar cada sentimento, como o interpretar até. Todos nós somos um reboliço de ideias e sentimentos.

 

Mas a vida passa, adquirimos experiência, vivência. Passamos momentos difíceis, batemos “com a cabeça na parede” e aprendemos. Aprendemos que a vida nem sempre é simples, que nem sempre é bela mas que temos que nos esforçar para a fazer bela que todos esses sentimentos que nos enchem, podem não ter sempre uma interpretação.

Uma das vantagens de se passar por fases menos boas na vida é a experiência que adquirimos. E ela vem e arrebata-nos sem pedir licença. Temos que a aceitar e devemos usá-la em prol do nosso bem-estar e felicidade.

Hoje em dia percebo melhor cada sentimento que surge dentro de mim, porque páro. Páro para perceber, páro para entender o seu porque, páro para enquadrar e aceitar ou mudar.