reflexão #7
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem."
Fernando Pessoa
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"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem."
Fernando Pessoa
Há um défice de pensamento crítico na nossa sociedade atual. Défice este que pode trazer por vezes, algumas consequências negativas e mal-estar na vida porque transmite uma certa ideia de preenchimento e autossuficiência que, no enanto, é vazia.
As pessoas ajuízam muito, mas sem refletir, dão opiniões! E por vezes opiniões baseadas em opiniões e críticas alheias, não param para refletir e induzir da sua própria cabeça.
Creio que a vida é vivida muito superficialmente, não é sentida, não é interiorizada; é vivida na emoção, no emotivismo do momento deixando a inquietação e o vazio interior.
As pessoas sentem essa inquietação porque não encontram espaços para a reflexão, espaços na correria da vida para trabalharem o seu interior, para se conhecer, para pararem, para refletirem, no entanto, acreditam que sim que refletem e que têm espaços. Isto porque o mundo oferece muitas fugas enganadoras que as pessoas aproveitam sem tirar usufruto das mesmas: spas maravilhosos, férias aqui e acolá, uma agenda cultural muito preenchida, toda uma super ocupação que é de facto enganadora.
E dessa forma as pessoas cansam-se rapidamente do trabalho, dos amigos, da família, da vida social, das férias paradisíacas ou das idas aos spa’s maravilhosos, porque simplesmente falta algo mais.
O problema de fundo é exatamente viver a vida com um sentido, ter metas e perspetivas de realização, é sentir e refletir e não andar a fugir dos problemas. São necessários momentos de contemplação, de tudo o que nos rodeia e que na verdade é o que necessitamos para sermos felizes.
São necessários momentos de encontro connosco próprios, não no sentido de fuga ou refúgio, mas sim para um encontro consigo e com a realidade tal qual ela é, e onde seja possível pensar, pensar a vida, pensar criticamente, refletir olhando a realidade.
Se nos ficarmos pela superfície, deixamos passar a vida, não temos profundidade e o amar e ser amados, fulcral para nossa vida, pode-se esvair rapidamente.
"A partir do momento em que os nossos actos têm uma testemunha, quer queiramos, quer não, adaptamo-nos aos olhos que nos observam; e, a partir de então, nada do que fazemos é verdadeiro."
Milan Kundera
in "A Insustentável Leveza do Ser"
Período de ausência para recarregar baterias, para recomeçar o ano e voltar a encher o balão de boas energias, de paciência, tolerância, delicadeza, respeito, todos os valores necessários para um bom ano para ir esvaziando o balão calmamente.
Foi o momento da caminhada a Santiago de Compostela.
A caminhada é o despreendimento do supérfluo, do irrelevante, é o estarmos dispostos a novas experiências e a alinhar o coração, tornar a causa mais forte, tornarmo-nos mais fortes pelo que nos move.
O caminho muda-nos, molda-nos. Muitos o percorreram; mas só alguns o conquistaram como se conquista a vida, para sempre. Arremessamo-nos pelo caminho como quem luta pela própria vida; aprendemos a densidade dos sentimentos, a profundidade dos nossos pensamentos e o impacto que podem ter em nós.
Peregrinar não é simplesmente caminhar, pôr uma perna á frente da outra e andar apreciando a paisagem; peregrinar implica antes de mais partir, sairmos das nossas circunstâncias e comodidades, de desapegarmo-nos e separamo-nos para podermos andar.
Ser peregrino é já por si só algo que nos marca, mas ser peregrino com “a minha gente”, com este meu grupo é algo que nos marca profundamente. Marca porque nos faz refletir sobre o nosso percurso, porque nos faz evoluir individualmente e em grupo, marca porque tudo acontece numa atmosfera de autêntica paz e harmonia e me faz relembrar todos os dias de quem quero ser, de onde quero estar, do que quero valorizar na vida.
Como tal, é crucial sentir o caminho, não apenas passar por ele.
Voltei, renovada e com o ‘balão’ cheio e esperando que a vossa Páscoa tenha sido docinha e recheada de amor.
"Felicidade é a única coisa que podemos dar sem possuir."
Voltaire
Atualmente vivemos numa sociedade em que as pessoas se agridem por motivo nenhum; não suportam qualquer tipo de falha ou contradição, muito menos de serem confrontadas com ideias distintas das suas.
Se a meio de uma conversa, discordam com a opinião do outro, já não há o poder da retórica só o do murro; se um empregado de mesa se engana no pedido, ‘vira-se a mesa ao contrário’; se alguém passa á frente na fila do metro, começa-se a insultar; todos os locais e motivos servem para partir para a agressão e ofensas desmedidas.
Hoje quase toda gente vive com uma postura snobe e aristocrática que os impede de aguardar pela sua vez, de falar direito com o próximo e respeitar o seu espaço.
De facto, creio que o nosso problema não é a desigualdade, na verdade, o problema é que não toleramos a igualdade dos cidadãos. Pessoas com os mesmos direitos que nós, a mesma liberdade, a mesma importância, é a democracia no papel, não na prática.
Aceitar as diferenças e respeitar os direitos das pessoas torna-se uma virtude indispensável para conseguir viver e conviver neste mundo repleto de energias negativas que nós atraem.
Creio que a tolerância também se perde em todo esse negativismo, vivemos a vida a correr para satisfazer os nossos compromissos, stressados durante o dia de trabalho e com vontade de regressar a casa, mas antes disso ainda temos que suportar filas de trânsito imensas, transportes públicos superlotados … vivemos mais impacientes que nunca.
Nos relacionamentos de hoje, qualquer que seja a sua natureza, não se pára para ouvir o desejo do outro, para se ajudar o próximo, para se ter um momento de delicadeza.
A palavra de ordem para tentar combater este estado espirito que nos rodeia é mesmo resistência, perante todas as atrocidades a que assistimos, perante todas as indelicadezas a que somos sujeitos, devemos resistir e não reagir. Resistir pacificamente e dar o exemplo, ser gentil e não julgar e tentar fazer dessa regra o dia-a-dia de quem nos rodeia.