a fome é de todos
Em conversa com uma pessoa amiga, discutimos o facto de em alguns hospitais (ou especialidades) proibirem a permanência de familiares dos doentes na hora da refeição ou mesmo oi acompanhamento ao refeitório, quando é o caso.
É uma decisão que dá azo a discussão uma vez que a presença de um familiar pode, e deve, ser um ponto positivo, de esperança, de incentivo (para que se alimentem convenientemente p.e.) e de auxílio aos próprios enfermeiros, dando simplesmente a refeição ao doente.
No entanto, analisando a questão de fundo, percebe-se que o pior não é a proibição em si, que acaba por ter uma razão de ser, é o que está por detrás da mesma e que justifica tal tomada de atitude. Sempre que podem, e precisam, as visitas comem a refeição, ou parte, que é destinada ao doente.
Tal atitude leva-nos a refletir sobre o estado a que chegou a sociedade, mais do que indignação social é tentar perceber o que leva alguém a ter tal postura perante uma pessoa que ama e que se encontra fragilizada…A miséria fala sempre mais alto e percebe-se que a fome pode roubar tudo a um ser humano, a dignidade, o respeito e até a compaixão pelos do seu próprio sangue.
Fica-se com um nó na garganta por assistir a tudo isto e com vergonha por fazer parte disto, por não lutarmos o suficiente pela mudança que queremos ver no mundo. Bem sei que por vezes, por muito alto que gritemos, não somos ouvidos, não temos impacto, mas não devemos nunca baixar os braços.
“A fome de uns é a fome de todos” e já é hora de o percebermos, mesmo que não nos aperte o estômago, mesmo que não nos roube a nossa dignidade devemos dar sempre ao mão ao próximo como gostaríamos que o fizessem connosco se algum dia estivermos em situação semelhante.