o futuro está a ser escrito
O dia seguinte às eleições legislativas 2025 e, em termos práticos, ficou tudo na mesma. A AD venceu, mas não conseguiu a maioria parlamentar. Tal como a Iniciativa Liberal, que manteve o seu espaço, mas não o alargou. O Chega teve mais uma forte subida, consolidando-se como terceira força política nacional, e o Partido Socialista (PS) uma derrota retumbante, com um resultado que não permite manter a liderança.
Resultado? Uma governação estável só será possível com um entendimento entre AD e PS — o tal “bloco central” que todos dizem recusar, mas que, neste momento, é a única solução possível para dar quatro anos de estabilidade ao país. (é que convenhamos, nós estamos fartos de eleições e não são tão baratas como isso…)
Contudo, sinto que estas eleições marcaram o fim de uma era.
Cinquenta anos depois das primeiras eleições livres, o “centrão” acabou. PS e PSD deixaram de ser, sozinhos, necessários e suficientes para garantir uma maioria constitucional. Isso não é apenas simbólico — é estrutural.
A direita junta, com a entrada musculada do Chega e o apoio da IL, passou a ter, pela primeira vez, potencial para alcançar uma maioria de dois terços. Isso tem implicações profundas, desde revisões constitucionais até à configuração dos órgãos de soberania.
O Chega passou, a partir de ontem, a ser candidato ao poder. O que há dois anos parecia um delírio populista, é hoje um pesadelo com contornos reais. Com um PS dividido, fragilizado, e um líder da AD que pode vir a ser pressionado por uma futura Comissão Parlamentar de Inquérito (espero bem que o seja, que esta novela da spinum viva parece não ter fim…), o caminho para a normalização da extrema-direita está a ser pavimentado. O discurso do “não é não” de Luís Montenegro será posto à prova, e não apenas pelos seus adversários, mas também pelos seus eleitores.
Chegámos ao ponto de não retorno. Ou os partidos fundadores da nossa democracia acordam para a nova realidade, assumem as suas responsabilidades com coragem e visão e percebem que um partido como o Chega só existe e cresce devido ao mau trabalho deles, ou estaremos, dentro de pouco tempo, perante um governo que representa um risco real para o futuro de Portugal.
Porque não nos iludamos: um governo liderado pela extrema-direita será tudo menos inofensivo. É uma ameaça à liberdade, à diversidade, ao Estado de Direito, à imprensa livre e à própria cultura democrática que construímos com tanto esforço. Um governo que promove a divisão, o ódio, o medo, o retrocesso nos direitos das mulheres e das minorias. Um governo que transforma o inimigo em alvo e a política em espetáculo.
Não se trata de ideologia política, trata-se de civilização.
Por outro lado, aprecio bastante a representatividade, o crescimento de partidos pequenos que vão obrigar a que se repense tudo; não há maiorias, não há decisões a solo.
Portugal precisa, mais do que nunca, de mudar a política, de mediação, de integridade, de políticas com valores e de acompanhar os tempos. O contexto atual que vivemos nada tem a ver com o pós 25 Abril, no entanto, aí estagnámos.
O futuro está a ser escrito. É tempo de pensarem entre as estratégias políticas ou o compromisso com as próximas gerações.