reflexão #159
"A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos."
by Marcel Proust
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"A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos."
by Marcel Proust
Confesso que apesar de ser do Norte (criada, não nascida, vá) não sou muito dada a palavrões, nada contra, mas a mim não me saem com naturalidade, no entanto, apetece dizer uns quantos quando vejo notícias desta natureza.
Quando um jogo digital tem como pressuposto o incesto e a dominação masculina temos a certeza, absoluta, que está tudo mal e estamos só a caminhar para o descalabro total da sociedade. A sociedade está podre!
Como é que um conjunto de pessoas, perturbadas, utilizou os seus cérebros para produzirem conteúdos altamente perturbadores, que propagam o discurso de ódio contra as mulheres, a violência, a misoginia e que fazem disso conteúdo lúdico?!
Mais grave ainda, como é que outras tantas pessoas acharam este projeto uma boa ideia, aceitaram jogar e acharam normal que num jogo, que seria algo de entretenimento, tivessem que violar a própria irmã e não vissem mal nenhum nisso…quão estragados já estão esses cérebros, para quererem testar e continuar a jogar?!
Vivemos no tempo dos stories nas redes sociais, só porque sim sem nada de útil para dizer. Da partilha da imagem perfeita, onde já se criou o conceito de ‘maquilhagem a imitar quando não se tem maquilhagem’. Das manifestações que não dão em nada.
Vivemos no tempo em que os direitos das mulheres é uma coisa de minutos, falada e rapidamente esquecida ao invés de ser uma das bandeiras de luta da sociedade, porque a violência doméstica é coisa do passado. Só que não é!
Naturalizamos a violência. Naturalizamos a toxicidade masculina e doentia que perpétua para os mais novos. Naturalizamos a falta de respeito porque dá visualizações.
Quão doentios nos estamos a tornar?! É preciso pôr o dedo na ferida, sim; falar sobre os assuntos; puxar os nossos jovens ‘para o lado da razão’ enquanto ainda é possível … a mudança, é responsabilidade de todos, cabe a todos nós.
Quando a luz se apaga… a nossa fragilidade acende-se
Esta fotografia não é de uma guerra civil. É Portugal, 2025. Ontem, ao primeiro sinal de falha generalizada de eletricidade, gerou-se um pandemónio, pessoas a correr para esvaziar as prateleiras dos supermercados. Ainda mal se sabia o que tinha acontecido, quando seria reposta a normalidade…enfim, sei que fui ao super tentar comprar umas saladas para o meu almoço e de uns colegas, porque o micro-ondas na empresa não funcionava, e as filas eram uma loucura.
A cena é trágica, mas profundamente simbólica: basta o apagão de uma luz e assistimos à implosão da ilusão de controlo que construímos. De repente, esquecemo-nos que parte do mundo continua lá fora, sem precisar de Wi-Fi para funcionar, nem ‘take away’, nem sequer Google para nos ensinar a sobreviver.
Isto é de uma incoerência atroz, vivemos numa era em temos acesso a imensa informação, em que podemos aprender de tudo com tutoriais, podcasts, cursos de ‘life skill’ e tudo mais, e nunca fomos tão incapazes de sobreviver sem que alguém nos ligue uma ficha na parede.
Vivemos numa ansiedade crónica: o medo do fim do mundo misturado com a incapacidade de saber o que fazer quando o mundo, de facto, falha.
Os nossos mais velhos, que tanto têm para nos ensinar, devem-se ter rido desta ‘tragédia urbana’, olhando para os seus quintais, para o seu fogão a lenha … ou mesmo que não os tivessem, saberiam que com uma lata de feijão e atum já fariam um manjar. Do alto da sua sabedoria olhando para a geração que tudo tem, mas está sozinha; com acesso a tudo mas pouco sabe, pensando: “Coitados destas gentes da sociedade atual… são como crianças perdidas no bosque, mas sem saberem sequer que podem comer as bagas que lhes aparecem pela frente.”
O que será de nós quando o luxo básico de um interruptor não responder?
Creio que está na altura de percebermos que a verdadeira evolução não é termos um drone a entregar pizzas, mas sim voltar ao básico ao essencial: é sabermos plantar uma couve.
A eletricidade é vital? Sim, sem dúvida! Não vamos retroceder décadas e décadas, mas o que devemos é acompanhar a evolução com o setor primário; o que devemos é ensinar as nossas crianças que o leite não vem do pacote e que também dá para cozinhar sem ter um fogão e um micro-ondas. Não vamos voltar à idade da pedra, não, mas vamos viver conseguindo conciliar tudo e não esquecendo o elementar. Será que não é possível?
"- Quando era jovem, quis fazer como toda gente, casei-me. Eis um belo disparate, uma ideia estúpida: fazer como toda gente. As boas maneiras, as dissimulações e as ideias feitas são assassinas."
by Valérie Perrin
in "A Breve Vida Flores"
A liberdade abriu portas a novas possibilidades, vozes e caminhos. Que ela continue a ser o alicerce do que escolhemos criar, hoje e sempre.
Liberdade para pensar. Liberdade para fazer, dizer, viver. Liberdade para ser. Há 51 anos, foi conquistada.
Hoje e sempre, não a deixemos fugir.
Feliz 25 de Abril!
Há coisas que já nem deviam precisar de ser escritas em pleno século XXI, depois de tantas décadas de luta pelos meus antepassados.
Mas em Portugal, em 2025, ainda há quem precise que se desenhe o óbvio: violação é crime. Sempre. Independentemente da roupa, da hora ou do lugar.
É incrivel como é cada vez mais um tema, como se tem que discutir constantemente, como estamos a educar os nossos jovens para a objetificação da mulher e para não ouvirem o que não querem: a violência sexual é real, estrutural e diária. E o silêncio de quem tem poder — político, judicial, mediático — transforma-se em cumplicidade.
Uma jovem menor foi violada em Loures.
Sim, menor.
E o país assiste, mais uma vez, à velha dança do relativismo, da culpabilização da vítima, do “mas ela…”.
Não. Não há “mas”. Há um sistema que falha, que protege agressores e que cala vítimas.
Um jovem é assassinado por fazer o que está correto, por cuidar do próximo, por denunciar e salvar potenciais vítimas. E quais as repercurssões dessa atitude? O que muda? Quem é castigado?
Tenho assistido a estes temas com uma preocupação crescente e com uma sensação de urgência de fazer algo para mudar. Mas sinto-me impotente sobre um sistema tão enraizado.
Estamos perante uma sociedade doente, todos sabemos, mas mais do que isso insensível às dores alheias, incapaz de se colocar no lugar do outro, ainda que esse outro possa ser uma irmã… sabermos que esta violação foi filmada e divulgada já é mau, mas ter sido vista, revista e partilhada por milhares é nauseante, gritante...culmina com o facto de ninguém ter denunciado e de não ser ato isolado!
Isto tem mesmo tem de nos fazer refletir sobre que jovens estamos a educar!
Jovens estes que são também vítimas de um sistema perpetuador destes comportamentos. Jovens estes que ainda estão em formação, são altamente permeáveis, mas que seguem, desde muito cedo, "influenciadores" misóginos, machistas, que objetificam e sexualizam a mulher. Jovens estes que são e serão os agressores do futuro.
Quem cala, consente.
Quem relativiza, alimenta.
Quem se esconde atrás da neutralidade, posiciona-se do lado errado da história.
Todos os dias nos deparamos com situações de violência física, emocional e sexual, contra crianças, adolescentes e adultos. Violência que não escolhe idade nem sexo, transversal a todas as profissões e enquadramentos sócio-económicos. E, de alguma forma, a ideia de que a vítima é culpada parece persistir entre a nossa sociedade.
São culpadas porque “se puseram a jeito”. Porque não gritaram nem fugiram. Porque não disseram “não”. Ou disseram, mas não foi um “não” totalmente convincente. Porque se vestiram ou comportaram de forma provocante. Porque sorriram ou olharam de forma sedutora. Porque estavam lá naquele momento. Porque se mantiveram em silêncio. Porque gostavam do agressor. Basta de culpabilizar as vítimas!
Este não é um tema de mulheres. É um tema de humanidade.
E a humanidade exige coragem.
E se não começamos a trabalhar o tema na base, junto das gerações futuras como esperamos mudar comportamentos?
Quando temos os nossos jovens a viver a vida "aos quadrados", com olhos colados em ecrãs crendo em verdades absolutas que lhes são apresentadas, como queremos mudar? Aliás, como queremos que os nossos jovens vivam a vida, descolem do digital, se nós próprios, os adultos que devíamos dar o exemplo, já não sabemos viver a nossa vida sem pegar num telemóvel? Estou na sala de espera, faço scroll enquando não me chamam; estou a ver TV com o miúdo, vou vendo uns tik tok ao mesmo tempo; enquanto conduzo, vou enviando mais uma mensagem; acordo pela manhã e pego logo no telemóvel para saber as notícias, tudo o que possa ter acontecido durante a noite, enquanto me ausentei para dormir...o exemplo começa em nós!
Queremos salvar as crianças e jovens? Pois então comecemos pelos adultos: arranquem-lhos telemóveis das mãos. Peguem nos jovens e olhem-nos nos olhos, conversem com eles, estejam genuinamente presentes, voltem-se para o Mundo. A vida acontece 'cá fora', fora do ecrã, onde os exemplos se dão, as memórias se criam, os valores se passam.
Sinto que esta deve ser uma luta de todos nós e me tem consumido, cada vez mais!
Onde estão os líderes que verdadeiramente nos inspiram?
Cresci, felizmente, a admirar líderes que marcaram gerações. Homens e mulheres que, com todas as suas imperfeições, tinham uma missão clara: tornar o mundo um lugar mais justo, mais humano, mais digno.
Lembro-me de ver na televisão o olhar sereno do Dalai Lama, a coragem inquebrantável de Nelson Mandela...Lembro-me da força silenciosa da Madre Teresa de Calcutá, sempre do lado dos mais pobres. Da diplomacia firme mas serena de Kofi Annan, que durante anos foi uma das vozes mais sensatas no palco mundial. Eram líderes que inspiravam não pelo medo, mas pela esperança. Não pelo poder, mas pelo exemplo.
Hoje, olho para o cenário atual e pergunto-me: onde estão esses líderes?
A verdade é que temos uma escassez brutal de referências globais, que nos inspirem, que nos façam acreditar num mundo melhor. Líderes que consigam unir, em vez de dividir. Que coloquem o bem comum acima dos interesses próprios. Que tenham visão, empatia e coragem.
Estes dias lidamos com a morte de mais um Ser Inspirador. Era um Homem bom, de coração puro, era inspiração, era cuidado, era união, era de uma pessoa de pessoas. E não, nao considero que os Papas tenham sido todos assim.
Com a morte do Papa Francisco — que eu considero que era já o último verdadeiro líder global com dimensão moral e humanista — não vejo hoje nenhuma figura no cenário mundial que tenha essa estatura. .
Não falo de cargos, títulos, fama. Falo de alma, de ação, de empatia.
O desaparecimento físico do Papa Francisco deixa um vazio imenso. Não apenas no seio da Igreja Católica, mas no coração de milhões que viam nele uma bússola ética num mundo cada vez mais perdido. Sim, porque nem é preciso ser católico para conseguir admirar este Homem e nos sentirmos inpsirados pela sua vida de dedicação plena.
Confesso que esta ausência de referências me inquieta, me deixa algo apreensiva sobre o futuro da humanidade que sempre anseia por um 'salvador'... Talvez nos exiga a reflexão, sobre o que necessita o mundo e o que podemos nós fazer, enquanto pequenos grãos de um todo.
Talvez o mundo esteja a precisar de pequenos líderes em cada canto, de pessoas comuns com princípios inabaláveis, que escolhem não baixar os braços, que fazem do cuidado com o próximo a sua luta. Que escolhem todos os dias fazer o que é certo, mesmo quando tal não é, de todo, o caminho mais fácil.
Mas, confesso… cresci com lideres gigantes e inspiradores. E fazem tanta falta no mundo atual!
Descansa em paz, Francisco, um homem excepcionalmente bom. A tua sabedoria e ensinamentos irão perdurar.
"A paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a humanidade."
"O amor é quando se encontra alguém que nos dá novidades acerca de nós"
by Valérie Perrin
in "A Breve Vida Flores"
Na minha juventude, era algo gozada pelas minhas amigas porque chegava a setembro e tinha 99% dos presentes de Natal tratados.
Entenda-se, não havia outra forma de me organizar, tendo em conta que dependia de terceiros, logo não tinha dinheiro, tinha que me dedicar aos trabalhos manuais, que é algo que requer inspiração e tempo, logo começava bem cedo. (não quer dizer que tivesse jeito, não pensem…)
Infelizmente, já não sou esse poço de organização, no entanto, continuo a gostar de fazer lembranças e, se tiver que comprar, gosto de despender tempo a pensar na pessoa a quem quero oferecer, e gosto de, em Novembro, ter tudo tratado.
Assim, em Dezembro posso sair para ir simplesmente desfrutar das iluminações natalícias e não para me enfiar em lojas a abarrotar de gente.
Para quem gosta de fazer tudo com tempo, trago notícias: O Natal chega de hoje a dois meses. (pasmem-se!)
Sim, sim, parece que o verão foi ontem, a Páscoa acabou de acontecer e o Carnaval ainda está aqui à espreita.
Mas a verdade é que a informação dramática - para os não organizados - é esta: o Natal chega daqui a dois meses. (ups, já não há imenso tempo para ‘fazer coisas’)
E claro que dizemos todos que o que conta é estarmos juntos e os bens materiais não interessam, mas no fundo também gostamos de ter um presente debaixo da árvore. Claro que não precisa de ser nada elaborado e dispendioso, às vezes se recebermos um postal com uma dedicatória sincera vale mais que qualquer pijama ou par de peúgas.
Ainda assim, se quiserem fazer lembranças, partilho convosco algumas das minhas, caso sintam que faz sentido para as vossas pessoas, e queiram pôr as mãos na massa:
- Velas artesanais com óleos essenciais (ou sem cheiros, para os esquisitos)
- Bolachinhas e bombons caseiros
- Licores e compotas
- Garrafinhas de azeite aromatizado (hoje em dia, esta prenda equivale a um rolex)
- Marcadores de livro, em cartolina e pintar
- Peças de bijuteria
Quem vai comprar presentes, aproveite para sair, passear pela sua cidade e ajudar o comércio tradicional em detrimento das grandes superfícies. É tão mais saudável, mais acolhedor e gratificante. Neste sentido não posso deixar de recomendar livros: é sempre um presente fantástico para oferecer à mãe, ao pai, ao tio, ao afilhado, ao marido, à cunhada, à filha, a todos!
Enfim, o que quero dizer com isto tudo, é que faltam dois meses para o Natal, ainda há tempo para prepararmos lembranças personalizadas para as pessoas em vez que comprarmos a primeira quinquilharia que virmos numa loja. No limite, optem por livros, são levezinhos, ficam bem em qualquer divisão e enriquecem a vida de quem os recebe. (então de quem os lê, nem se fala )
Boas prendinhas para todos.
"As folhas caem, as estações passam, só a lembrança é eterna."
by Valérie Perrin
in "A Breve Vida Flores"